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Ana Margarida de Carvalho

Escritora

Com o primeiro romance venceu o Grande Prémio APE e o feito repetiu-se em 2017 com o segundo. Além desses livros, já nos deu a ler contos, relatos de julgamentos e uma história infantil, numa diversidade que a coloca entre os autores mais versáteis do panorama nacional. Talvez haja algo de genético nesta capacidade, uma vez que é filha do escritor Mário de Carvalho, partilhando ainda com o pai a tendência para situar as suas histórias noutros tempos. Mas foi ao jornalismo que dedicou a maior parte da sua vida, atividade que a ocupou durante 25 anos e também lhe proporcionou diversos prémios.   

Ana Margarida de Carvalho
Há aquela velha frase que diz «todo o jornalista sente que tem um livro dentro de si», mas também há outra, mais maldosa, que acrescenta «e é lá que ele deve ficar». No seu caso, foram vários livros bem recebidos. O jornalismo ajudou-a na escrita de ficção?
Sou tentada a responder o contrário: a escrita de ficção ajudou-me no jornalismo. Claro que em jornalismo usamos uma escrita denotativa, mais direta e eficaz, e temos um pacto inquebrável com o leitor, que é a verdade; na escrita de romances ou contos utilizamos uma linguagem conotativa, recorrendo a vários efeitos e camadas de leitura. Mas sempre me esforcei por apresentar textos jornalísticos mais criativos.

Seguiu as indicações dadas pelo seu pai no livro «Quem Disser o Contrário é Porque Tem Razão»? Costuma conversar com ele sobre técnicas de escrita?
Costumamos discutir, sim. Apesar de usarmos formas de nos expressarmos completamente diferentes, temos muitas opiniões em comum. Repugna-nos um bocado o cliché, o lugar-comum. Comunicamos muito através do humor e sentimos o mesmo desprezo (que é quase um dó) pelas pessoas desimportantes que se dão ares de importância. 
«Ao situar as minhas histórias noutros tempos estou a falar destes. Ao falar de continentes que não me pertencem, estou a falar do meu»
O que a tem levado a incluir outros tempos históricos nos seus livros?
É que ao situar as minhas histórias noutros tempos estou a falar destes. Ao falar de continentes que não me pertencem, estou a falar do meu. 

É possível subsistir como escritor hoje em dia?
Não é possível, de todo, viver só da escrita em Portugal. Penso que apenas aqueles que vendem muito, ou têm muitas traduções poderão ambicionar viver exclusivamente da escrita. Quase todos os escritores que conheço têm as suas profissões, pelas quais auferem um vencimento. Era o que acontecia comigo, no jornalismo, antes de ser despedida ao fim de 25 anos. Este ano tive a sorte de receber uma bolsa de criação literária, atribuída pelo estado português, que funciona como o meu balão de oxigénio para 2018. Para o ano acaba, não sei o que vou fazer, será uma incerteza total.

Como vê o panorama jornalístico a nível mundial?
O paradigma mudou. Vivemos em época de crise. E a crise define-se por o velho ainda não se ter extinguido e o novo não se ter instalado completamente. Há muitos bons exemplos que nos chegam do estrangeiro, e são aqueles que não se deixam impressionar por modas e continuam solidamente a apostar na qualidade, na criatividade, na credibilidade. Em Portugal, vejo muitos a seguirem fórmulas que já foram abandonadas há anos por grupos estrangeiros. É uma pena. 
T. Sérgio Gomes da Costa
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