VillaseGolfe
António Rebelo de Sousa

António Rebelo de Sousa

Entrevista Anterior
Alfredo Cunha

Alfredo Cunha

Próxima Entrevista

António Homem Cardoso

Fotógrafo

Entrou no mundo da fotografia aos 14 anos e da forma mais inesperada possível, graças a uma oferta do ator norte-americano Eddie Constantine. Desde então, nunca mais parou de registar o que o mundo lhe pôs à frente. Diz que ganhou a vida na publicidade e a alma na centena de livros publicados, numa carreira onde também cabe o estatuto de fotógrafo da Família Real. Já lhe concederam alguns prémios, bastante prestigiados, mas nunca concorreu a um concurso fotográfico, assim como garante que nunca teve emprego, clube ou partido – explicando-se esta última opção por ser um monárquico assumido.     

António Homem Cardoso
Pode contar-nos a história do encontro com Eddie Constantine e dizer como isso foi determinante na sua carreira? O ator alguma vez soube que teve esse papel na sua vida?
Foi na antiga praça de touros de Algés que aconteceu esse encontro mágico entre sorte e destino. Eu entrei no plateau com a inocência do cão que entra na Igreja e quando tentei espreitar por uma das câmaras, os técnicos, com dois instrumentos, um berro e um empurrão, puseram-me fora do círculo delimitado da ação. Cá de fora, olhei-os com a arrogância poética dos excluídos e foi aí que o ator gritou na minha direção: «Marcelin, Marcelin», e eu, não sei como, agarrado ao chão, esperei por ele como um forcado espera pelo touro. O embate resultou num sorriso carinhoso e a bênção para entrar no burladero. Fiquei mascote e figurante, até que o The End surgiu em forma de despedida. «E agora, António?» E este agora, de há tantos anos, ainda me parece parado no tempo: o ator abriu a bagagem de mão, de onde tirou a minha amada e mágica Voigtländer, e com o mesmo sorriso do primeiro dia disse-me de mão estendida: «c’est pour toi!» E então, aquela máquina, naquele dia, foi muito mais do que uma prenda, foi o início de outro filme que, por ventura minha, ainda está em rodagem. Nunca mais vi esse meu querido benfeitor. Um dia coincidimos em Paris, mas eu era pequeno demais para tão grande festa.
«Tanto a representação como a escrita têm sido absolutamente ocasionais»
Também passou pela representação. Foram situações realmente ocasionais ou era um objetivo que já tinha?
Tanto a representação como a escrita têm sido absolutamente ocasionais. Na primeira, um atrevimento só possível com a compaixão dos meus queridos amigos Augusto Cabrita, Fernando Lopes e Luiz Francisco Rebello. Na outra, a necessidade inadiável e sempre repentina de dar voz às minhas paixões.

Tem feito muita fotografia de rua e de paisagem. Quais as principais diferenças que encontra no Portugal de hoje e de ontem?
Entre o país pequeno, pobre e fechado dos anos 60 e este outro de hoje, de «muitas e desvairadas gentes», integrado num continente de fronteiras abertas, moeda única e falsa riqueza, a diferença é incomensurável. Voltamos, sobretudo nas grandes cidades, ao cosmopolitismo glorioso do século XVI.

O fotógrafo da Família Real é obrigado a respeitar determinadas regras, seja no registo fotográfico, na etiqueta ou noutras áreas?
As regras das Famílias Reais são simples, antigas e generosas. O bom senso resolve quase tudo e o ambiente parte daquele princípio confirmado por Eduardo VII de que quem é Rei não precisa de o ter na barriga.
T. Sérgio Gomes da Costa
F. Direitos Reservados
Política de Cookies

Este site utiliza Cookies. Ao navegar, está a consentir o seu uso. Saiba mais

Compreendi