António Rebelo de Sousa
Alfredo Cunha
António Maia
Cartoonista
Os seus cartoons mordazes têm definido com uma exatidão invejável os diversos momentos políticos do país e do Mundo. São quatro décadas de trabalho, filtradas por uma formação que passou pela Sociologia, Direito e História da Arte, formando um caldo cultural a que as suas origens ribatejanas concederam, com certeza, um tempero adicional. Tem publicado cartoons em alguns dos principais órgãos de comunicação social e costuma medir o pulso a este género através da coleção de livros Cartoons do Ano, que dirige. Dedica-se ainda à pintura, tendo mostrado a sua obra em várias exposições.
Como começou o seu interesse pelos cartoons?
Sempre tive um jeito inato para desenhar. Vinha da minha mãe que desenhava e pintava muito bem. No liceu, corri os exames de desenho sempre com «vintes». O que fazer com este talento? Um dia, um santo qualquer, na sua estranha misericórdia e com sentido de humor, colocou-me numa redação de um jornal, a mostrar alguns desenhos ao diretor. Foi em 1978, faz agora quarenta anos. O diretor era o jornalista Fernando Dil e o semanário Edição Especial. Saía aos domingos. O Fernando Dil disse-me: «Quero, para depois de amanhã, um cartoon para a primeira página!» E assim foi.
As pessoas estão sempre à espera que diga uma piada? É um cliché com que costuma deparar-se?
O cartoonista, em geral, esgota o seu humor na ponta de uma caneta. Isto quer dizer que, como pessoa, pode não ter a mínima piada. É assim. Já os humoristas cultivam o humor falado e interpretado. Claro que esta confusão é comum e temos de viver com ela. Quanto a mim, além de um tentado humor gráfico que cultivo com carinho, treino um certo sarcasmo de sacristia e a ironia. Para sobreviver.
«O cartoonista, em geral, esgota o seu humor na ponta de uma caneta»
Quais são os seus temas preferidos?
Os temas preferidos são os políticos e os sociais. A maneira como vivemos, os costumes e hábitos que inventamos para podermos viver em multidão, o sentido que parecemos dar à vida, vidinha. E a política entra nisto tudo.
Já teve dissabores pessoais por algum cartoon que tenha publicado?
Quanto a dissabores com cartoons, poucos foram quando comparados com as muitas alegrias que me dão. E os dissabores foram por ter sido, por vezes, injusto com o meu alvo, o que me atormenta, ou por certos cartoons terem originado certos recados para as redações, o que me alivia. O alvo foi atingido.
Há tabus especialmente portugueses?
Nós, os portugueses, povo único no universo, somos assim únicos porque temos caraterísticas, hábitos, cultura, língua e outros defeitos extraordinários. E tabus também. A religião, o sexo e a inveja. Meu Deus, a inveja. E, para fazer brilhar este firmamento, temos uma centenária falta de autoestima que nos aperta e nos trava em tanta coisa. Mas somos assim. Somos únicos, somos portugueses.