Cláudia Costa Santos
Eduarda Silva
Domingos Freitas
Médico
«Quem pode decidir quando os doutores discordam?», questionava-se Alexander Pope. Na verdade, nem sempre é fácil a vida de médico, mas é «gratificante», diz-nos Domingos Carneiro de Freitas. Exerce medicina em Guimarães – terra que o viu nascer –, e está-lhe na génese. É licenciado em Medicina pela Universidade do Porto; é especialista em Medicina Geral e Familiar; e especialista em Medicina do Trabalho. É também membro dos Colégios de Especialidade de Medicina Geral e Familiar; Medicina do Trabalho e da competência em Gestão de Unidades de Saúde, da Ordem dos Médicos. Aos olhos do Doutor, o exercício da Medicina exige talento, conhecimento técnico e uma constante atualização.
Ser médico é uma questão de vocação?
Sim. Mesmo sendo controversa a definição de vocação, nesta era ‘tecnológica’, em que tudo se treina ou aprende, o exercício da Medicina exige talento, conhecimento técnico vasto e atualizado, disponibilidade permanente e resiliência. É essencial conjugar conhecimento com atitude humanística essencial, para se compreender o ‘outro’ e as suas necessidades.
Os médicos são uns privilegiados?
Não, no sentido da linguagem corrente referindo aquele que tem vantagens ou benefícios. Sim, sinto-me privilegiado pelos resultados dos meus atos e atitudes terapêuticas. Sim, sinto-me privilegiado pelo reconhecimento e gratidão que me transmitem os pacientes após momentos difíceis. Sim, sinto-me privilegiado por poder ter, em cada dia, a realização profissional nesta profissão que em boa hora escolhi.
«Medicina exige talento, conhecimento técnico vasto e atualizado, disponibilidade permanente e resiliência»
O que é trabalhar numa urgência?
O trabalho em Serviço de Urgência é o mais exigente que a Medicina tem. Além de períodos de trabalho sempre muito longos, com exigência física muito elevada, capacidade de decidir e agir em adversidade e perante qualquer imprevisto, acresce a imensa carga burocrática e exigência social. Tem, no entanto, desafios que são a essência da prática da Medicina: assistir e tratar qualquer cidadão que está a necessitar de cuidados.
Porque é que a maioria dos pais quer que os seus filhos sejam médicos?
Pergunta para a qual não conheço a resposta completa. Mas, além das decisões individuais de quem sente apelo ou vocação para a Medicina, é possível que questões de prestígio social, facilidade de iniciar carreira, remunerações aceitáveis, entre outras, façam parte do imaginário dos pais, que, naturalmente, querem o melhor para os seus filhos.
Como é hoje lidar com o ‘Dr. Google’?
Na Medicina, como noutras profissões, a informação está disponível em múltiplas plataformas. O grande desafio é escolher e extrair conhecimento validado cientificamente a partir da informação disponível. No caso concreto da Medicina, temos de ser agentes pedagógicos, não permitindo que, por preferências, ideologias ou obscurantismo, se ultrapasse a racionalidade científica e a prática clínica de acordo com o estado de arte.
Hoje, passamos a maioria do nosso tempo no trabalho. A medicina no trabalho é uma garantia de proteção dos trabalhadores?
A Medicina do Trabalho tem como missão principal identificar, prevenir e tratar doenças relacionadas com o trabalho. A generalidade das empresas tem os serviços instituídos, liderados por especialistas em Medicina do Trabalho e técnicos de segurança. No entanto, o fator crítico de sucesso é a atitude individual de cultura de segurança, enquadrado nos respetivos procedimentos. Se todos participarmos seguramente, estaremos mais protegidos.