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O Grande Segredo de Dalí

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Visão do Inferno

Aos 55 anos (1959), Salvador Dalí – o espanhol surrealista – viu-se espiritualmente preso entre o ateísmo e a cresça em Deus (o pai era ateu e a mãe era católica), chegando a escrever na sua autobiografia «O céu deve ser encontrado exactamente no centro do seio do homem que tem fé». «Neste momento ainda não tenho fé, e temo que morra sem o céu», acrescentara. À data, Salvador Dalí foi convidado por John Haffert, co-fundador e director do Apostolado Mundial de Fátima (também conhecido como O Exército Azul) para pintar uma imagem da primeira visão vista em 1917 pelos pastorinhos de Fátima. E a obra, em tela, A Visão do Inferno, ficou mais tarde para a história da humanidade.  

Montagem:A visão do Inferno sobre a imagem de Dalí

Esta pintura fez com que Dalí passasse um tempo com o cónego José Galamba, e, seguidamente, conversasse com a Irmã Lúcia, a única pastorinha viva naquela altura. Dalí após esta passagem por Fátima tornou-se mais religioso. Segundo as palavras de Nicolas Descharnes, especialista em Dalí, ele converteu-se, mas «escondeu-o das pessoas do seu círculo», e apenas as pessoas mais próximas (esposa e seus amigos aristocráticos) tinham conhecimento disso. Este era o Segredo de Dalí. Prova disso foi o constante aumento, cerca de 400%, de obras religiosas criadas pelo pintor, após ter produzido A Visão do Inferno, finalizada em 1962. Dalí retratou a visão a partir do relato e das memórias da Irmã Lúcia, e, em tela, a pintura ganhou cor e força. «A dificuldade que ele teve ao pintar esta visão mostra que se importava massivamente com a pintura», disse Carlos Evaristo, historiador de Fátima e presidente da Fundação Histórica Cultural Oureana em Fátima, naquela época, fundada por John Haffert para estudar a história de Portugal. 

Dalí apresenta pintura ao padre Colgan

Quando Dalí foi recebido por José Galamba, estava tão entusiasmado que lhe disse: «Imagine, a terra abriu aqui mesmo e as crianças viram o Inferno». Depois do encontro com a Irmã Lúcia, Dalí confessou-se ao Padre José. Posteriormente, regressou a Port Lligat, na Espanha, onde pintou, em segredo, A Visão do Inferno. Mas ninguém viu a pintura até ela ser apresentada ao Monsenhor Harold Colgan, fundador do Exército Azul, havendo uma imagem (imagem 1) que retrata esse momento em que Dalí, de olhos arregalados, olha para o rosto do padre que está surpreendido com o que vê. Foi assim a recepção a esta pintura. No Santuário de Fátima poucos foram aqueles que gostaram da pintura. Como o quadro não atraiu muita atenção, Haffert pendurou a obra no seu escritório em Nova Jersey, mais tarde no apostolado e, posteriormente, no Exército Azul em Nova Jersey, onde o colocou debaixo da cama de uma freira. Ali foi esquecido durante quase 30 anos, até ser descoberto em 1997, e, passados uns anos, foi vendido a um coleccionador de arte. Dalí dividiu a sua vida entre os amigos da arte e aqueles com quem ele ia à igreja. Foi assim que se tornou o maior Segredo de Dalí. 
Só em 2012, quando Paul Perry iniciou a investigação sobre a pintura, é que se descobriu o significado da obra e o Segredo de Dalí. Como nos comentou Perry em entrevista, que pode ler mais à frente nesta reportagem, «Foi surpreendente ver que tantas pessoas esperavam que o inferno parecesse um lugar atraente». Mas Perry não ficou por aqui. Iniciou a investigação sobre o efeito que essa obra teve sobre Dalí e documentou, em filme, alguns dos acontecimentos, através de testemunhos de quase todas as pessoas, ainda vivas, que conheciam o artista, consultou o Exército Azul e o arquivo de John Haffert. O cineasta utilizou algumas fotografias, que lhe foram fornecidas, onde está Dalí a frequentar a igreja. O resultado da pintura A Visão do Inferno remete-nos para a imagem do medo, da esperança, da angústia e do mistério. A presença de Nossa Senhora Virgem Maria no canto superior direito da obra transmite pureza, paz, no meio de um inferno. Considerado um dos maiores artistas do século XX, Dalí encontrou Deus quase por um acaso. 

Maria Cruz
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