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Fernando Coelho

«Temos excelentes escolas em Portugal e excelentes arquitetos»

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F. ©PMC

Queria ser piloto aviador. Porque o sonho, desde criança, eram os aviões. Não concretizou. Foi então que o jeito para o desenho, e por sugestão da sua mulher, foi levado à escola de arquitetura. Foi uma paixão. E, hoje em dia, acha «que não conseguiria viver sem isto». Fernando Coelho, do atelier FCC Arquitetura, anda atualmente em altos voos, seja através dos projetos de arquitetura, seja nas subidas aos céus, sempre que ousa voar. Ainda que não seja piloto de Boeing’s, realizou o sonho de pilotar. À arquitetura, ele dedica grande parte da sua vida. Tem um sonho: arquitetar uma ponte. Durante a nossa conversa, falou-nos do projeto Monverde Wine Experience Hotel, este que é um sucesso de Enoturismo em Portugal e que, atualmente, está a passar por uma nova ampliação. 

Em 16 anos de atelier qual foi o maior desafio do Fernando Coelho?
Os projetos são todos diferentes. Acho que cada projeto é um projeto. Todos têm um cliente e os clientes são todos diferentes. São todos uma aventura. Num projeto de arquitetura, primeiro está-se sempre a mexer em muito dinheiro e, quando se mexe com muito dinheiro, é sempre complexo. Depois, estamos a mexer com os sonhos das pessoas. Quando idealizamos um projeto de uma casa, por exemplo, mesmo que ela custe 100 mil euros, ou cinco milhões de euros, o esforço e o sonho da família é igual. Por isso, todos os pormenores e a envolvência são sempre uma aventura. Por vezes é preciso ter muita paciência, temos de ser um bocadinho sociólogos, psicólogos... Já tive episódios fantásticos (risos). 

Quão desafiante foi projetar o Monverde Wine Experience Hotel?
Este foi o primeiro hotel do atelier FCC. Andei em vários hotéis, a nível nacional e lá fora, para perceber o que os outros faziam. Tinha de perceber o que estava mal, para não fazer aqui. Há oito anos que estamos com o processo do Monverde. Quando fui contactado para este projeto existiam algumas pré-existências (a casa principal, por exemplo). Isto tem 30 hectares, é quase um monte no Alentejo, e os proprietários foram adquirindo terrenos. Quando cheguei cá existiam ruínas. A ideia do Sr. Óscar era ter uma casa para receber amigos. Começámos a desenhar e logo percebemos que isto tinha uma potencialidade distinta daquilo que ele queria fazer. Propusemos, mais ou menos, o produto final que temos hoje. A propriedade divide-se por dois concelhos: Amarante e Felgueiras. 

Qual foi a maior dificuldade que teve ao longo de todo o processo?
O facto de o hotel estar em dois concelhos dificultou, porque teve de ser licenciado pelos dois. E depois o Turismo de Portugal que não acreditava que o projeto desse certo. Porque este sítio não era conhecido como um sítio turístico. Os primeiros clientes da Monverde vieram pela arquitetura. Quando projetámos pensamos nas sensações que as pessoas têm quando chegam, quando estão no quarto, quando vão para o spa. Tivemos muitos arquitetos a visitar o Monverde, não só a nível nacional, mas principalmente estrangeiros. Já ganhámos prémios de melhor hotel ligado ao vinho, em termos de paisagem e arquitetura. Depois há a parte da comunicação e todo o serviço do hotel que também atrai. Depois há também várias atividades, como ser enólogo por um dia, fazer o seu rótulo, engarrafar... 

«Enquanto numa moradia unifamiliar estamos a fazer uma moradia para a família, num hotel é quase um edifico público»

E agora, nesta segunda fase que estão a projetar, como tem sido todo o processo? 
Nesta segunda fase, a dificuldade tem sido arranjar pedreiros, que é sempre uma grande ficuldade… mas conseguimos arranjar uma equipa fantástica.  

Em termos de materiais, diferem muito dos da primeira fase?
São muito idênticos. Na primeira fase pensámos que o hotel tinha de ter rótulo verde internacional. 80% da pedra que se vê era do próprio terreno, descobrimos isso, por acaso, ao fazermos as escavações. As madeiras são de Pinho nacionais termo modificadas. Depois existem os sete painéis fotovoltaicos para produção de energia elétrica; painéis solares para aquecimento de águas sanitárias; e, depois, todas as águas fluviais, da chuva, são aproveitadas para o reservatório, que serve para a rega da vinha e para abastecer as sanitas. A segunda fase foi idealizada na casa antiga que pertencia à quinta, onde se guardavam as alfaias agrícolas. A casa está a ser readaptada para seis quartos, mais a adega experimental, e dez quartos de ampliação. Nestes últimos, pensou-se em suítes, com jardim, com piscina privada, com wine bar e lareira. 

Com qual dos espaços do Monverde o Fernando se identifica mais?
A claraboia do centro. Trabalho com o Paulo Neves já há alguns anos e gosto de misturar a escultura com a arquitetura. Trouxe-o aqui ainda em obra. Saiu a chuva de folhas, que enriquece o espaço. A perspetiva do espaço é completamente distinta, o jogo de luzes e sombras...

É mais difícil pensar num projeto de enoturismo do que num residencial? 
A importância é igual. É diferente na sua essência, mas há sempre um cliente final, e, enquanto numa moradia unifamiliar estamos a fazer uma moradia para a família, num hotel é quase um edifico público, que não é para ninguém, mas que é para todos, e temos de pensar num conceito.   

Tem projetos em várias ilhas nos Açores. O que é que o liga aos Açores?
Foi o projeto do Cella Bar. E a dificuldade que teve que ver com ele. Primeiro pela forma que tem. Todo o sistema construtivo foi complexo. Quando cheguei lá, apresentei o primeiro desenho e eles começaram-se todos a rir. Fiquei tipo: «Este pessoal só pode estar a gozar comigo». Perguntei: «Desculpem lá, mas estão a rir do quê?». Responderam: «Não vai conseguir fazer isto aqui». Eu, armado em arquiteto, disse: «Nós fazemos tudo direitinho, projeto de execução...». Mais tarde, percebi porque é que eles se riram. Para ter uma ideia, aquela forma foi feita por um senhor que faz barcos. 

Quando soube que queria ser arquiteto? 
Não queria ser arquiteto, queria ser piloto aviador. Também cheguei lá, depois. O meu sonho, desde pequeno, sempre foram os aviões. Fiz parapente, sempre andei no ar. Na altura, estava tudo encaminhado para isso, fiz matemática, geografia descritiva, mas, na minha altura, ainda não havia escolas de aviação civil, tinha de se ir para a Força Aérea. Comecei a namorar, com a atual mulher, e o curso, na Força Aérea, era de seis anos. E, na altura, tinha de fazer 16 anos de Força Aérea. Era muito tempo fora daqui. Diziam, desde pequeno, que tinha jeito para o desenho, e a Paula, na altura, disse-me: «Já que não vais para a Força Aérea, porque é que não experimentas arquitetura?». Fiz-lhe a vontade (risos). Fiz o primeiro ano. Foi uma paixão. Hoje em dia, acho que não conseguiria viver sem isto. 

Temos bons arquitetos em Portugal?
Sim. É evidente que temos as duas referências, o Siza Vieira e o Souto de Moura. E também o Távora, que foi o mestre deles. Mas sempre tivemos bons arquitetos. O Raúl Lino, por exemplo, também é um arquiteto fantástico. Temos excelentes escolas em Portugal e excelentes arquitetos. 

Há algum projeto que gostaria de desenvolver?
Uma ponte. Porque é um desafio. 

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