Como
imagina a empresa, quando já não estiver cá?
Tenho
a minha sobrinha, que tomou conta do lugar de um antigo trabalhador. Tenho
outra sobrinha que está na parte financeira, e mais um ou dois quadros. Como
não tenho herdeiros para tomarem conta da empresa, criei uma fundação, que vai
ser inaugurada oficialmente para o mês que vem. A futura presidente da
associação será a Dr. Cristina, a minha assessora. Vamos criar um fundo para os
trabalhadores terem o complemento da reforma que a fábrica lhes vai dar, mas
para terem direito têm de ter alguns anos de casa, claro. A fundação já
trabalha há cinco ou seis anos. Instituímos um prémio para os três melhores
alunos de três aldeias. Começou com 350 euros e um par de sapatos, e este ano
já demos 750 euros. E ainda irá subir mais. Quando eu andava na quarta classe,
vivia numa aldeia próxima daqui com uma freira, a pessoa que me criou, e ela
meteu-me no seminário. Passava as minhas férias com ela em Donim. Um dia recebi
um prémio, que a Escola Martins Sarmento dá todos os anos ao melhor aluno das
escolas do concelho. Já nem me lembrava disso. Um belo dia, estava no centro da
cidade e passa o professor Santos Simões, da escola industrial, e ele recordou-me
que o meu nome estava no livro da Martins Sarmento, da época que ganhei esse
prémio. Isso recordou-me a primeira vez que fui ao cinema, ao Teatro Jordão,
comi um lanche de categoria. Lembrei-me da alegria que passei, e logo institui
um prémio na empresa para dar aos três melhores alunos das escolas de Donim,
onde eu morava, de Penselo, onde tenho a fábrica e Paredes de Coura.
Quantas
pessoas emprega?
Já
empregamos 620 pessoas. Com a pandemia e o fecho das lojas (a Foreva tinha 80
lojas), temos menos, perto de 500, contando com Guimarães e Paredes de Coura.
Disse
que dentro do grupo tem várias empresas, nomeadamente, a de informática.
Temos
a fábrica de sapatos, a fábrica de solas, fábrica que faz as palmilhas e
plantares para o grupo, em Paredes de Coura.Depois, temos uma empresa de
informática, de desenvolvimento de software, temos o armazém da Foreva,
a Overcube, e a imobiliária, temos uns 51 apartamentos em Guimarães. Isto tudo dá
para me entreter. Dentro da imobiliária temos também a Fly Residence, que são
espaços de alojamento local e arrendamento, e a quinta da Eira do Sol, com 15 quartos,
piscina, sauna, ginásio, ... é turismo. Tomei a decisão de fazer um campo de paddel
para reforçar a atração dos turistas.
A
Fly London como surgiu?
Andávamos
há muito tempo à procura de uma marca. Tínhamos a Kyaia, que era a marca do
grupo. Mas para marca de sapatos de senhora é muito simétrica e nós tentávamos
vender sapatos e até tentamos fazer outro letring, mas não deu
resultado. Até que numa feira na Alemanha apareceu a amiga Carolina e falou-nos
de uma marca inglesa (os sócios chatearam-se na viagem). Falamos com um dos
sócios ingleses e perguntei-lhe se me vendia a marca. Fez acordo e fiquei com a
marca.
E
depois o lançamento foi logo um sucesso.
Durante
anos só vendíamos no estrangeiro, portanto, a marca era conhecida em Londres,
mas em Portugal não. Passados dois ou três anos, ainda viam a marca como de
estrangeiros. Fazíamos muitas conferências, viajávamos muito, ... até a Oxford
fui fazer uma conferência, onde conheci o Tiago Brandão Rodrigues (ex-ministro
da Educação), aluno dessa mesma universidade. Em 2014 e 2015 chegamos a vender
quase 1 milhão de pares de sapatos para todo o mundo. É a única marca
portuguesa de calçado com afirmação internacional.
Vendem
para quantos países?
51
países. Durante muitos anos, Inglaterra foi o nosso principal mercado. Mas
começamos a crescer, e hoje penso que é entre Canadá e Estados Unidos.
Como
olha para o mercado do calçado a nível nacional?
O
mundo do calçado é a imagem. Os industriais fazem bons sapatos, mas gasta-se
muito dinheiro para se lançar uma marca. E os nossos industriais não têm essa
visão. A valorização da qualidade dos sapatos está feita, só não se consegue
fazer a valorização do preço.
Então,
o que falta para combater isso?
Investir.
«Gasta-se
muito dinheiro para se lançar uma marca»