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FRANCISCO PINTO BALSEMÃO

«Eu morro, mas a família mantém-se»

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Pontual. Chegou a horas, conforme combinado, à sede do grupo. Depois das apresentações feitas passámos às perguntas. Em 20 minutos foram poucas aquelas às quais quis responder. Ainda assim continuámos a questionar. Homem frontal. Parco nas palavras e curto nas respostas. Pinto Balsemão é um dos rostos da liberdade de expressão, pela qual sempre lutou. Construiu um império, na área da comunicação social, do qual fazem parte a primeira estação televisiva privada, a SIC, e o icónico semanário Expresso. Foi com o grupo Impresa, a política e a advocacia que ganhou nome e se tornou numa das pessoas mais reconhecidas no nosso país. Contudo, nesta entrevista, de si pouco falou. Acerca do seu grupo e dos seus negócios quase nada revelou. Sobre política nada quis comentar. Eis, aqui, o ‘sumo’ de uma entrevista, arrancada a ferros, a Francisco Pinto Balsemão. Ele que é o homem da comunicação. 

É natural de Lisboa, teve sempre uma veia política, foi jornalista...
Fui, não! Sou.

Ainda é...
Acho que serei sempre.

Tornou-se um grande empresário...
Ainda hoje (28-06-2017) estive num sítio, onde me deram uma notícia, e a primeira coisa que fiz foi publicar essa notícia num dos meios de informação e comunicação social ao qual estou ligado.

Ainda tem essa veia jornalística?
Não é ainda, corte o ainda.

Tem saudades do tempo em que praticava mesmo jornalismo?
Continuo a fazer bastante jornalismo, não tanto quanto desejaria, mas vou muito a tempo da evolução do jornalismo, e, sobretudo, acompanho muito todas as mudanças de conteúdo importantes, na televisão, na imprensa, nos sites… E não é só acompanhar, estou muito presente nas decisões finais.

Faz por estar sempre a par de tudo o que acontece ao seu redor?
Claro! Não intervenho nas decisões do dia a dia, porque nessas é evidente que tem que haver liberdade e responsabilidade por parte dos diretores.

Tornou-se um grande empresário... Com certeza tem orgulho no percurso que fez. Ainda assim, se pudesse voltar atrás, o que é que mudaria?
(Silêncio). É difícil de responder. Acho que nos vamos tentando adaptar bastante à evolução tecnológica e à evolução política. Televisão privada não existia. Logo que ela foi possível, nós já estávamos prontos para atuar e para fazer o canal. Podíamos ter feito mais cedo. O que eu lamento é que não tenha havido, em alguns casos, condições políticas, sobretudo, para avançarmos mais cedo, e que aí tenhamos perdido tempo. Também me parece que quando acreditámos na Internet, quando foi a primeira bolha em 2000, 2001, por aí, acreditámos que quase toda a gente, no mundo da comunicação social, podia oferecer os conteúdos, porque seria tal o ingresso, em termos de receitas publicitárias, que seria seguramente recompensador. Portanto, não termos cobrado logo no princípio pelos conteúdos, torna isso, hoje em dia, mais difícil.

Foi o maior erro, de certa forma...
Sim. Não foi só meu, foi de toda a gente no mundo, não só em Portugal.

«Um jornalista competente tem de ser, cada vez mais, capaz de trabalhar com meios digitais»


O que é que podemos esperar do futuro da comunicação social?  
Temos que esperar, para bem da democracia e da liberdade em geral, que os meios de comunicação independentes (no sentido de não depender do poder político, nem do poder económico) ganhem dinheiro e estejam sujeitos a regras deontológicas e a sanções quando não cumprem essas regras. Esses meios vão ser, cada vez mais, necessários, nos tempos em que a pós-verdade é o conceito mais discutido. Foi a palavra escolhida, no ano passado, pelos dicionários de Oxford. As falsas notícias ombreiam com as notícias verdadeiras e são espalhadas, pelo mundo inteiro, em poucas horas. Os factos alternativos também aparecem cada vez mais, e, por isso, haver quem faça a separação do trigo do joio é muito importante, cada vez mais.

E o futuro do jornalista será cada vez mais exigente?
Um jornalista competente tem de ser, cada vez mais, capaz de trabalhar com meios digitais, e tem de perceber que, dentro daqueles cinco elementos clássicos da notícia, o «Quem?», «Onde?» e o «Quando?» estão cada vez mais reservados para as redes sociais, que muitas vezes se enganam, e o «Como?» e o «Porquê?» é que são do jornalismo.

Sabemos que recentemente fez reestruturação em alguns dos seus meios, como a SIC e o Expresso. Tiveram de ser despedidos alguns jornalistas, que já estavam há algum tempo na casa. Quão difícil é para si este tipo de decisões? 
Acho que às vezes há necessidade de reestruturar, muitas vezes porque para a árvore principal continuar a poder crescer, alguns dos ramos têm de ser eliminados.

Também sabemos que o grupo, mais cedo ou mais tarde, vai acabar por necessitar de capitais de fora...
Porquê? Eu morro, mas a família mantém-se.

Quem se tem mostrado interessado até ao momento?
Porque é que diz que, mais tarde ou mais cedo, vai entrar capital de fora?! Não é obrigatório.

Obrigatório não será...
Já tive vários sócios, portugueses e estrangeiros, mas eu penso que deter a maioria é importante, enquanto puder detê-la.

E por onde é que passa a solução?
Todas as empresas, nomeadamente as da comunicação social, têm de ganhar dinheiro para poderem ser independentes. Passa por gerir bem, diversificar receitas, reduzir despesas, como já falámos há pouco, com tudo o que é necessário. 

«Já tive vários sócios, portugueses e estrangeiros, mas eu penso que deter a maioria é importante, enquanto puder detê-la»

Acha que as pessoas lhe reconhecem valor pelo que o Balsemão já fez pelo país? Falamos da liberdade, da liberdade de expressão...
Não me compete a mim dizer. Já recebi vários prémios. Não gosto de falar sobre mim próprio.   

Pelo percurso que o Balsemão percorreu, pelo que ajudou a construir, é notório e merecido esse reconhecimento. Sente que é tão bom quanto as pessoas acham que é?
Não me compete a mim avaliar. Faço os possíveis, trabalho muito, procuro formar-me e aprender muito, não apenas a nível cultural geral, mas a nível, também, de uma cultura mais profissional: acompanhar esta evolução teórica, das novas tecnologias. Portanto, acho que trabalhar, trabalho.

Uma das grandes missões da sua vida foi a luta pela liberdade de expressão. Há mesmo liberdade de expressão hoje em dia?
Continua a haver. Metade do mundo não tem liberdade de expressão, tem censura. E nos países onde existe liberdade de expressão há muitos condicionamentos, nomeadamente, poderes políticos, económicos, culturais e desportivos, que tentam usar os media em seu proveito, e não para que se desempenhem as funções das quais já falamos - as funções que os media devem desempenhar -, quer no aspeto das notícias, quer no aspeto da vinculação de opiniões distintas, ou o utilizador de um site tirar as suas conclusões. Há muitos casos, como sabemos, jornais, sites, rádios, blogs, que sobrevivem à custa não propriamente de receitas próprias.

«O povo português é muito hospitaleiro»

 A sua relação com a Isabel dos Santos não é das melhores. O que é que o Balsemão diria dela enquanto empresária e enquanto pessoa?
Não tenho uma opinião muito formada, nunca trabalhei diretamente com a Isabel dos Santos.

Mas sabemos que recentemente houve uma situação...
Ah... isso não vou comentar!

Permite a hipótese de, na hora de escolher, enquanto estiver à frente do grupo Impresa, aceitar a entrada de capital angolano?
Já disse há pouco que temos tido sócios de vários países. Já tivemos sócios brasileiros, da Globo, belgas do grupo Plata, já tivemos sócios portugueses, muitos. Por isso, não me importo nada de trabalhar com sócios. Gosto é que esses sócios me tragam algum know-how.

Então a nacionalidade não é importante, o que importa é esse know-how.
Sim, é o know-how.

Como é a sua relação com o Marcelo Rebelo de Sousa? Não falo enquanto Presidente da República, mas como homem.
Não quero falar sobre isso. Acabou. Tem para aí matéria que nunca mais acaba.

Ia falar-lhe de uma partida célebre que ele lhe pregou, há muitos anos...
Não quero entrar por aí.

Mas reconhece-lhe mérito agora enquanto Presidente?
Não quero entrar por aí!

Como analisa o papel do governo?
(Silêncio) Não quero falar de política.

Não lhe daria nenhuma nota?
Nada.
Já está. Acabou!
Já não é nada mau, tem material que nunca mais acaba. Pensei que fosse uma entrevista levezinha, simpática.

Posso só lhe fazer as últimas perguntas?
Quais são as perguntas?

Já fez bons negócios enquanto jogava golfe?
Não, praticamente não. Acho que é mito.

Qual é o seu maior defeito e a sua maior virtude?
Ah, também não vou falar sobre isso.

Como é que é a sua rotina diária?
A minha rotina diária é levantar-me e ir para o trabalho, voltar para casa lá para as nove da noite.

O que acha deste ‘boom’ turístico que o país está a viver?
Acho óptimo. Nós não podemos querer turistas e depois começar logo com dificuldades sempre, e alertas.  

Mas então o que é que falta? O que temos de mudar?
Acho que o povo português é muito hospitaleiro, gosta dos turistas, de mostrar trabalho e de evitar que haja uns selvagens, como estes agora do Algarve há dias, que partem tudo e não sei o quê… e que não são desejáveis. Mas isso são acidentes de percurso, não se pode julgar os turistas estrangeiros por causa dos bêbados ingleses. 

Maria Cruz
T. Maria Cruz
F. Nuno Almendra
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