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· Personalidade · · T. Maria Cruz · F. Direitos Reservados

Luís Montenegro

«O PS está a confundir o partido com o Estado. O PS está a falhar ao país.»

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Os dias da semana são passados a correr, e todo o tempo tem sido contado, ainda assim, no meio de toda a azáfama, conseguiu algum espaço para responder às nossas questões, nesta que é a edição do 21.º aniversário da revista. Luís Montenegro, presidente do PSD, falou-nos da beleza da vida humana que, na sua perspetiva, tem sempre «muitas emoções novas a juntar às boas e menos boas que já acumulamos no passado». Disse ainda querer cumprir a missão de liderar a oposição, «com o objetivo de constituir uma alternativa sólida e mobilizadora de Governo, e de ganhar as próximas eleições». Sobre o orçamento de Estado fez referência à carga fiscal imposta às empresas e atesta que «vivemos um ciclo de empobrecimento». Mencionou a capacidade e o conhecimento que Pedro Passos Coelho tem para «servir Portugal ou a Europa ao mais alto nível» e fez referência à importância que o Brasil tem no «contexto económico e ecológico mundial». Como líder do PSD, quer tornar-se «uma alternativa ganhadora, credível e maioritária que traga uma nova esperança a Portugal». Tem vivido, ainda, uma das mais incríveis experiências com o programa «Sentir Portugal», que o leva a «sentir e conhecer tanta gente espalhada em todo o território». Luís é pai e sobre esse papel diz procurar transmitir aos filhos «os valores do trabalho, da honestidade, da tolerância e da solidariedade», e concluiu que «o amor de um pai não se consegue descrever, sente-se.» 
Já não falta muito para completar 50 anos. Nestes anos, o que mais o marcou pessoalmente e que desejos tem para os próximos 50?
São quase 50 anos a aprender coisas novas todos os dias. A maior beleza da vida humana, na minha perspetiva, é que há sempre muitas emoções novas a juntar às boas e menos boas que já acumulamos no passado. Essa riqueza de experiências e vivências, a procura de felicidade que almejamos para nós e que devemos ajudar a propiciar aos outros é o meu maior desejo. O resto é instrumental desse desígnio. 

A advocacia sempre foi aquilo que quis seguir? Em que ponto está o Direito em Portugal? 
Efetivamente desde muito novo que encontrei a minha vocação e concretizei-a. As escolas de Direito são globalmente boas em Portugal e permitem múltiplas saídas profissionais. O Direito, para além da ciência jurídica stricto sensu, é uma área transversal em cujos princípios assenta muita da nossa organização social, cívica e política. Essa virtude secular creio que ainda se mantém. No caso da advocacia, que é a minha atividade profissional de base, os desafios são enormes para quem começa, e o paradigma de relação com o cliente mudou radicalmente nos últimos 30 anos, fruto da transformação comunicacional e digital.  

Quando começou exatamente a sua vida, enquanto deputado? 
Fui eleito a primeira vez no dia 17 de março de 2002 e tomei posse dia 5 de abril desse ano. Exerci a função 16 anos seguidos e saí por vontade própria no dia 5 de abril de 2018. A história tem vários capítulos, mas, no essencial, fui eleito autarca com 20 anos e, aos 24, já era presidente do PSD em Espinho. As coisas foram-se sucedendo e «cheguei» ao parlamento com 29 anos, sem ser pela via da «Jota». Curiosamente, era mais novo do que a maioria dos deputados da JSD que eram, salvo erro, 12 dos 105 do PSD na altura. 

Foi presidente do grupo parlamentar do PSD, entre 2011 e 2017. Como descreve esses seis anos? 
Hoje posso dizer que foram anos duríssimos e desafiantes que exigiram muito espírito de sacrifício, patriotismo e coragem. Digo isto sem pretensiosismo. Na primeira fase, 2011-2015, estávamos no Governo e tivemos de ‘expulsar’ a Troika que o Governo anterior tinha trazido. De 2015 a 2017, fomos para a oposição, apesar de termos ganho as eleições, e convivemos com a Geringonça. A história está a revelar que a Geringonça foi um atraso de vida, para não dizer mesmo uma tragédia económica e social para Portugal. Os anos de 2015 a 2019 foram anos perdidos, em que podíamos ter transformado o país fortalecendo-o para o futuro e tivemos um governo que reverteu reformas estruturais e se limitou a desbaratar a herança que recebeu e as oportunidades de que dispôs. Tudo para salvar um líder e fazer regressar ao Governo uma máquina partidária faminta de poder.

«A história está a revelar que a Geringonça foi um atraso de vida, para não dizer mesmo uma tragédia económica e social para Portugal»
Atualmente é o presidente do PSD. Sempre idealizou chegar aqui e até um dia tornar-se no primeiro-ministro de Portugal?
Essa ideia, confesso, só se desenhou na minha cabeça em 2017. Quando Pedro Passos Coelho saiu, muitas pessoas queriam que lhe sucedesse. Mas eu não me tinha preparado pessoalmente para assumir essa responsabilidade e até entendia que, nessa altura, era benéfico vir alguém menos ligado ao ciclo anterior. A seguir, é conhecido, discordei frontal e lealmente da estratégia seguida no PSD e assumi as consequências que daí advieram e me trouxeram até aqui. Foi uma questão de convicção, não foi nada fulanizado. Agora, cumprirei a missão de liderar a oposição com o objetivo de constituir uma alternativa sólida e mobilizadora de Governo e ganhar as próximas eleições com o intuito de termos uma governação mais ousada, mais ambiciosa e mais transformadora e reformista.

Em 2011, após a vitória de Pedro Passos Coelho nas legislativas, foi eleito presidente da bancada parlamentar do PSD. Como descreve esse tempo e como olha para o papel desempenhado pelo presidente do partido à época? 
Esse tempo foi de complexidade máxima. Herdamos uma bancarrota! Pedro Passos Coelho foi um patriota. Portugal deve-lhe muito. A sua coragem e verticalidade foram excecionais. E, ao contrário do que muitos dizem, teve sempre sensibilidade social. Os mais fracos foram sempre mais protegidos, num contexto de adversidade e recessão que não fomos nós que criámos. Em 2015, deixámos um país a crescer, que tinha baixado o défice de 11,2% para 3%, a repor e a recuperar rendimentos perdidos, com o desemprego a descer e a exportar mais do que a importar.

Como veria o regresso de Passos Coelho ao panorama da política nacional?
Ele é um ativo que tem capacidades e conhecimento para servir Portugal ou a Europa ao mais alto nível e em várias áreas, da academia à política, da economia ao associativismo nacional e internacional. 

«Pedro Passos Coelho foi um patriota. Portugal deve-lhe muito»
Em 2015, manteve-se na bancada parlamentar, mas agora, com a coligação PSD-CDS, contudo, o PS, aliado à esquerda, toma o poder. Que sentimento teve naquela altura?
Já o disse anteriormente. O país teve um primeiro-ministro que não escolheu, um programa político que não sufragou e, de 2015 a 2019, perdemos tempo e oportunidades. Um país que quer estar no primeiro pelotão da Europa não pode governar a pensar no dia a dia. Tem de antecipar e construir futuro! 

Em 2017, anuncia a sua saída do Parlamento. O que o levou a tomar essa decisão?
A conjugação entre as divergências estratégicas que enunciei no Congresso nessa altura, a abertura de espaço para o surgimento de novos protagonistas e o chamamento da minha vida familiar e profissional, que sofreram bastante com a minha ausência. 

Quase três anos depois, em 2020, candidata-se à liderança do PSD. O que falhou para ser derrotado por Rui Rio?
Pouco mais de 1500 votos…! Essas coisas têm sempre um contexto e um circunstancialismo. Sei bem porque aconteceu, foram vários fatores, mas, neste momento, isso é tudo irrelevante. 

Este ano, o líder do partido, Rui Rio, sai, e o Luís volta a anunciar a sua candidatura, e é em maio deste ano que assume a presidência do PSD. Que objetivos traçou para esta nova viragem do partido?
Acreditar! Acreditar na regeneração do PSD, acreditar em Portugal e nos portugueses, acreditar que somos capazes de ser os melhores entre os melhores em muitas atividades. Podemos e devemos aproveitar as nossas qualificações e potencialidades, podemos e devemos ser mais inovadores e empreendedores. Podemos e devemos ser mais produtivos e criar mais riqueza para gerar recursos capazes de construir uma sociedade mais justa, mais livre e com uma verdadeira igualdade de oportunidades.

«Em 2015, deixámos um país a crescer, que tinha baixado o défice de 11,2% para 3%»
Desde que tomou posse, tem passado muito do seu tempo a visitar populações e municípios que muitas vezes parecem estar esquecidos pelos políticos. De que forma este contacto com as populações lhe vai trazer vantagem no futuro?
 Tem sido uma experiência fantástica de enriquecimento humano, político e cívico. Sentir e conhecer tanta gente espalhada por todo o território ajuda muito à tarefa de escrutínio e fiscalização do Governo e habilita-nos a sermos mais competentes e certeiros nas escolhas que teremos de fazer no futuro, quando nos apresentarmos para governar Portugal.

E sobre o Orçamento de Estado, que olhar crítico tem?
Vivemos um ciclo de empobrecimento. As pessoas, as famílias, as empresas e as instituições pagam cada vez mais impostos e os serviços públicos prestados pelo Estado estão cada vez mais longe de responder às necessidades. Economicamente, crescemos em termos acumulados, de 2016 a 2021, 7,1%, quando os países da coesão da União Europeia cresceram em média 18,4%. Somos o 21.º país da Europa com o rendimento per capita a 27. Estamos cada vez mais na cauda, a assistir ao desenvolvimento do Leste e à deslocalização para outras geografias dos investimentos e da mão de obra. A passividade e o imobilismo deste Governo agravam o retrocesso dos últimos anos e o OE 2023 é mais uma expressão disso.

Que estratégia está a implementar para fazer frente à governação socialista?
Firmeza e exigência na oposição. Abertura, ponderação e ambição no desenho de uma alternativa ganhadora, credível e maioritária que traga uma nova esperança a Portugal.  


«O Brasil é importantíssimo no contexto económico e ecológico mundial, e é importantíssimo no âmbito da lusofonia, cuja mãe-pátria é Portugal»


Tem praticamente três anos até às legislativas. Está ansioso por essa altura?
Pessoalmente, não tenho nenhuma ansiedade. Quem começa a ficar ansioso por ter um novo Governo é o povo português e tem muitas razões para isso. Os portugueses deram uma maioria absoluta ao PS, deram a maioria das câmaras municipais e juntas de freguesia ao PS, mais deputados no parlamento europeu ao PS e, neste momento, dizem, com fundamento, que o PS está a desmerecer a confiança que recebeu. O PS está a confundir o partido com o Estado. O PS está a falhar ao país. 

Enquanto observador da política mundial, como acha que vai ser a governação de Lula da Silva, no Brasil? Irá condicionar a política mundial dos próximos anos?
Antes de mais, desejo que o povo brasileiro se reconcilie de uma divisão literalmente ao meio. Depois, desejo que a governação não seja de fação nem do ponto de vista institucional nem programático. O Brasil é importantíssimo no contexto económico e ecológico mundial, e é importantíssimo no âmbito da lusofonia, cuja mãe-pátria é Portugal. 

Como é o Luís Montenegro pai?
O melhor é perguntar aos meus filhos…, mas tento ser o mais pedagógico na transmissão dos valores do trabalho, da honestidade, da tolerância e da solidariedade. A característica que mais lhes procuro incutir, porque é a que mais aprecio, é que sejam sempre capazes de se colocar na posição dos outros. No mais, fazemos muitas coisas juntos, a começar pelo gosto pelo desporto que partilhamos e praticamos muitas vezes, apesar de o golfe ainda não ser uma das modalidades a que eles tenham aderido. Enfim, o amor de um pai não se consegue descrever, sente-se. E eles dão-me esse privilégio.
Maria Cruz
T. Maria Cruz
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