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Há 50 anos por Portugal

André Jordan

Fundador do André Jordan Group

André Jordan

Vim viver em Portugal em 1970 porque depois de haver visitado o país enquanto o meu pai viveu no Estoril e passado aqui algum tempo a tratar da liquidação dos seus negócios, depois da sua morte em 1967, fiquei convencido, após experiência na Argentina e no Uruguai, nos Estados Unidos e na França, com passagem pela Venezuela, Porto Rico e as Bahamas, de que, não vivendo no Rio de Janeiro, Portugal, em particular Lisboa e o Algarve, reunia as características urbanas, climáticas, humanas e sociais que eu procurava para desenvolver projetos integrados de habitação e lazer para um mercado internacional de nível alto.
A minha avaliação resultou ser correta e, ao longo dos quase 50 anos que aqui estou, criei as duas coisas que mais me importam na vida – os meus 4 filhos e 8 netos, e os meus empreendimentos.
O Portugal que identifiquei nos anos 60 era como se diz vulgarmente no Brasil «Devagar, quase parando».
Nos anos subsequentes assistimos a uma extraordinária evolução em todas as áreas: o desenvolvimento urbano, as indústrias, o comércio, a saúde, a educação e a paz social, a par de um significativo aumento da longevidade, dada a grande capacidade dos portugueses para se adaptarem ao bom e aguentarem o mau. Ainda assim, é importante reconhecer que continuamos desfasados economicamente dos nossos companheiros da União Europeia e arriscamos perder a oportunidade gerada pelo sucesso do turismo e o imobiliário residencial para estrangeiros, assim como para os nacionais. Deixamo-nos embalar pela manipulação das estatísticas e pelos prémios oferecidos por organizações que os comercializam.
O turismo e a atividade imobiliária relacionada cresceram ao longo dos anos de forma quase espontânea, graças às nossas qualidades e atrações conhecidas, com uma pequena atividade de promoção seja por parte do Estado ou dos privados. Estes, por sua vez, mostram-se pouco vocacionados para uma atuação conjunta no sentido de atrair e fidelizar os nossos clientes naturais.
O Governo estimulou o investimento estrangeiro no mercado imobiliário, graças aos programas Golden Visa e Residente Não Habitual. Apesar de algumas críticas internas e outras vindas do exterior, programas desse tipo existem em muito maior escala em países nossos concorrentes, tais como a Espanha.
É imprescindível consolidar um processo que o Presidente da APEMIP, Luís Lima, chama de «união de facto: Imobiliário e Turismo», pelo que essa união tem um impacto crucial no emprego e na construção. Temos de resistir às pressões das autoridades bancárias europeias contra esses setores, o que se deve à timidez das autoridades do setor económico e financeiro portugueses em fazer compreender a importância estratégica que essas duas indústrias têm para o emprego e o bem-estar dos portugueses.
Por outra parte, a pouca disposição dos empresários do setor e das autoridades oficiais do turismo para a promoção conjunta de programas culturais e artísticos que despertem o interesse dos segmentos mais sofisticados dos nossos mercados alvo e que são clientes naturais da sobriedade, bom gosto e hospitalidade do estilo de vida do nosso país.
Devemos reconhecer as lacunas da nossa oferta de atrações no que se refere a museus e à animação, ambos setores muito mais desenvolvidos e abundantes nos países europeus, que são os principais emissores de visitantes para Portugal.
É nesse sentido que, há vários anos, venho acompanhando o absurdo debate sobre a conveniência da existência de um Museu dos Descobrimentos. A maioria dos nossos visitantes, justamente os europeus, estudou os nossos descobrimentos nas suas escolas e chegam a Portugal na ansiedade de ver a ilustração dessa saga. Basta ver a grande frequência da Torre de Belém e da Fortaleza de Sagres, que, apesar não terem nada em exibição, correspondem ao apelo da história.
Berlim tem um museu da história do judaísmo, que incluí o reconhecimento do Holocausto, o mesmo acontece em Varsóvia. Abandonemos pois os complexos de culpa histórica.
Outra grande lacuna nas principais zonas turísticas portuguesas é a ausência de um centro comercial dedicado à produção nacional de artigos de qualidade. Refiro a louça, cristaleria, joalharia, arte, moda, mobiliário, tapeçaria... A grande maioria do que é vendido na Avenida da Liberdade, por exemplo, é de produtos estrangeiros, pelo que o benefício nacional desse grande movimento comercial é praticamente nulo. Os visitantes têm dificuldade em encontrar produtos portugueses. Sugiro a criação de centros comerciais BEST OF PORTUGAL em Lisboa, Porto e Algarve, o que seria não só uma promoção das indústrias portuguesas como também uma grande atração turística.
A verdade é que outros países nossos concorrentes, tais como a Turquia e a Grécia, são muito mais ricos na área museológica e na preservação dos seus grandes monumentos históricos e têm grandes festivais musicais e artísticos, que se repetem todos os anos, fidelizando a sua clientela.
Com objetivo de recolher os contributos de personalidades portuguesas e outras estrangeiras que aqui vivem ou viveram, para que ajudem com a sua experiência, o que pode ser muito valioso para o desenvolvimento do turismo, proponho a formação de um Conselho Consultivo Estratégico para a Promoção do Turismo, para dar pareceres e sugerir propostas de atividades promocionais, com a eventual contratação de organizações especializadas nacionais e internacionais.
Lisboa, o Porto, o Algarve e a Madeira estão bem servidos em matéria de hotelaria e restauração mas carecem de eventos e atrações noturnas.
O anúncio da construção de um novo centro de congressos na FIL da Expo, vem suprir a capacidade de receber grandes eventos internacionais como foi a Web Summit, que, em boa hora, João Vasconcelos conseguiu atrair para nós e o Presidente da Câmara Municipal teve o realismo e a coragem de garantir por longo prazo a sua realização aqui.
Depois de 50 anos em Portugal não tenho queixas e só gratidão, e como português, que também sou, tenho direito de crítica.

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