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Luísa Rosas

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Lídia Jorge

Escritora

Lado a lado com as palavras, Lídia Jorge percorreu o seu caminho, ao longo da vida. Sexagenária, natural de Boliqueime, no Algarve, licenciou-se em Filologia Românica, e foi nas palavras que viu a sua arte e a sua forma de expressão. Quando escreve, a preocupação da escritora passa «pela busca da verdade, pela intenção de fazer companhia e de partilhar uma visão do mundo, na tentativa de desocultar a modernidade que atravessamos». Procura nas obras criar escritas num quadro de harmonia. É através da interpretação dos leitores que a autora compreende a mensagem dos seus livros.  E sente que um livro só está terminado quando à sua volta as cadeiras voam, pois «se esse sentimento de levitação passa para os leitores, então a mensagem passou».

Lídia Jorge
As letras sempre estiveram presentes na sua vida. Em criança, na licenciatura, no ensino, enquanto professora, e nos livros. Quão importante são as palavras para si? 
As palavras são o que faz de nós seres humanos. O nosso pensamento é feito de palavras. Todas as pessoas têm as palavras como centro das suas vidas. Mas no caso dos escritores elas são também a matéria prima da sua arte. As palavras são entidades duplamente radicais na minha vida. Com elas reproduzo a realidade, com elas me afasto da realidade, criando fantasias.

De todos os romances e contos que já escreveu qual foi o que teve maior significado para a Lídia?  
O primeiro livro ocupa sempre um lugar muito particular no percurso de um escritor. De certa forma, determina-lhe o caminho. O Dia dos Prodígios foi o meu primeiro livro.  Escrevi-o para que não se esquecesse um tempo arcaico português, que eu julgava que iria desaparecer rapidamente, mas que afinal perdura, até aos dias de hoje, como imaginário. Os leitores recompensaram-me. Todos os meus livros subsequentes dialogam como ele. Assim é com o mais recente e será com o próximo.
«Diria que a literatura atual se encontra entre as literaturas mais originais da Europa»
É uma voz reconhecida no panorama da literatura. De que forma analisa a literatura portuguesa? 
A língua e a literatura portuguesas remontam ao século XII.  Não é possível sintetizar uma literatura tão duradoura em tão poucas palavras. Diria que a literatura atual se encontra entre as literaturas mais originais da Europa.  Utiliza os recursos poéticos de uma língua rica, traduz experiências históricas distribuídas por quatro continentes, nela se expressam centenas de etnias, é variada nos seus meios de expressão, a narrativa não está submetida ao modelo anglo-saxónico, bem pelo contrário, e a poesia continua a ser fiel a uma tradição criada no início do século XX, cujos nomes cimeiros foram Mário de Sá Carneiro e Fernando Pessoa. E se a diáspora e a questão portuguesa continuam a ser um tema literário, as modificações trazidas pela globalização constituem, hoje em dia, um dos temas mais frequentes da nossa literatura. É uma Literatura com tradição e aberta ao mundo.  

Mais de 30 anos de palavras soltas já permanecem no seu curriculum. Quantos mais podemos esperar?
O que posso dizer? Que em noites de lua cheia penso que vou ser como Johann Sebastian Bach, que nasceu em 1685 e nunca mais morreu.

Qual é a sua frase favorita? 
Provérbio oriental - A vida é cair sete vezes e levantarmo-nos oito.
Maria Cruz
T. Maria Cruz
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