VillaseGolfe
· Economia&Negócios · · T. Joana Rebelo · F. André Rolo

Domingos Correia

«O premium é o patamar onde nos queremos posicionar»

Villas&Golfe Pub. PUB HOMES IN HEAVEN Pub.
Vidago Villa Pub.
PMmedia PUB Pub.
Com morada fixa no Parque Industrial de Celeirós, em Braga, fomos conhecer o Grupo Arliz. Quem o representa é Domingos Correia, e é com ele que a Villas&Golfe não tarda a reunir. A fama de expert nos negócios é inegável, mas a certeza consolida-se quando entramos escritório adentro. Os olhos azuis ciano, que se destacam na sala de branco celestial, vão-se aproximando para fazer as apresentações. Ao redor, vêm-se os rolos dos projetos, embrulhados como pergaminhos, e uma estante de livros de todos os tipos, com diplomas e fotografias de família a acompanhar. Escusado será falar dos sofás estratégicos e mesas extensas, passíveis de fechar bons negócios. Rapidamente surgiu conversa, percorrendo o Grupo Arliz e as seis áreas que o complementam. Entre passado, presente e futuro, ficamos a conhecer os projetos de um homem pragmático, de poucas palavras e muitos negócios, visionário e seguro de si. 
Ficaríamos admirados com os seus hobbies preferidos?
Eu gosto de desportos náuticos. Também viajo bastante, trazendo muitas ideais e aprendizagens comigo.  

Joga golfe?
Ando a iniciar. Estou a tirar o handicap

Fale-nos do percurso do Domingos até fundar o Grupo Arliz.
Comecei a trabalhar aos 16 anos, numa empresa familiar, fundada pelo meu pai. Era já uma empresa transversal e a experiência com que fiquei deve-se a ele. Depois, comecei a deixar de me identificar com certos pontos da organização e decidi sair, aos 23 anos. Até que criei o Grupo Arliz e foi aí que tudo começou, entre 2000 e 2001.  

Como é que descreve o Grupo Arliz quanto à sua visão e posicionamento no mercado?
O Grupo Arliz está a apostar, sobretudo, em quatro áreas de atuação: promoção imobiliária, construção civil, turismo e metalomecânica. Na vertente imobiliária, quer posicionar-se no mercado de luxo, em cidades específicas, como Lisboa e Porto, e ilhas. No turismo, a aposta recai em hotéis de cinco e quatro estrelas. Em todas as áreas de negócio procuramos atuar de forma ética e sustentável.  

Construção civil, metalomecânica, gestão hoteleira, seguros, exploração de parques subterrâneos e promoção imobiliária. Ao todo, seis áreas de negócio que compõem a atuação do grupo. Todas elas se complementam entre si? 
Sim. Eu fui criando outras áreas de negócio, com o passar do tempo. Não queria estar dependente de um só ramo, até porque já apanhei duas crises e, quando só há uma área de atuação, há maior probabilidade de correr pior. Quando o grupo está consolidado em mais do que duas vertentes, umas auxiliam as outras. Portanto, o Grupo Arliz começou na construção civil e imobiliário e, depois, foi criando outras cadeias de negócio. Está tudo interligado: a metalomecânica trabalha para a construtora, a construtora trabalha para a promoção imobiliária e para a hotelaria... Não partilho o risco a 100%, mas faço a gestão de forma proveitosa para todas as áreas da organização.

«Atualmente, são sete marcas e 450 colaboradores»

Falamos de quantas marcas e quantos colaboradores, ao certo?
Atualmente, são sete marcas e 450 colaboradores. Até ao final do ano o número sobe para 600 funcionários. 

Quais são os desafios atuais do setor da promoção imobiliária, para um grupo sólido como o Arliz?
O desafio é o de continuar a crescer. Estamos já dispersos no mercado de Lisboa. Neste momento, encontramo-nos a edificar um prédio, o Conde Redondo, e vamos iniciar um outro, em Setúbal. Presentes no grande Porto e nos Açores, temos projetos a surgir, embora uma das maiores dificuldades sejam os licenciamentos nas câmaras municipais, processos seguramente demorados.  

Dentro da vertente da construção civil, que tipo de intervenção desenvolvem? 
Atuamos, sobretudo, ao nível da construção, reabilitação e obras públicas.  

Entre outros projetos, está a desenvolver o Casal de Paços, Conde Redondo e o OPorto Luxury Residences. Falamos de projetos opostos, com diferentes targets em vista. Qual tem sido o mais desafiador? 
O Casal de Paços e o Conde Redondo têm sido os mais desafiadores. Trata-se de produtos premium, com um valor acrescentado muito maior. O target é também outro, mais direcionado para os investidores estrangeiros. O OPorto Luxury Residences já é mais standard, um género de projeto que fazemos há bastante tempo. 

Quais são as exigências de um empreendimento de luxo?
Há várias formas de construir um empreendimento de luxo. Hoje, visito vários e posso dizer que também gosto de ver o que é feito pela concorrência. Percebo que o luxo se define nos acabamentos finais, nos pequenos detalhes diferenciadores e na forma como são enquadrados. Às vezes, até se pode utilizar material muito caro, mas se for mal aplicado não terá o mesmo efeito.  
Portugal consome, cada vez mais, o que é luxo, nomeadamente no ramo da habitação. Espera vir, no futuro, a incidir mais na vertente premium
Sim, cada vez mais. Além de o país consumir mais luxo, o premium é o patamar onde nos queremos posicionar. De facto, a trabalhar o produto de gama média ou média baixa há muita gente, mas a apostar no premium não há tanta, pelo que ou têm medo ou não têm como apostar na qualidade.   

Fale-nos da aposta no ramo hoteleiro.
Na sequência da construção surge, então, a vertente hoteleira. Começou em 2007, quando estávamos a reformular um hotel para um cliente e ele me desafiou a entrar na área do turismo. Foi assim que me entrosei. Criámos os dois uma empresa, 50/50, e comprámos a primeira unidade hoteleira nos Açores. Em 2010, comprámos outro complexo no Funchal e, aí, já era acionista da empresa a 70%. Em 2016, adquiri a empresa a 100%, altura em que também já estava com o terceiro hotel nos Açores. Neste momento, estamos prestes a abrir o hotel do Mosteiro de Santa Clara, em Vila do Conde; adquirimos outra obra no Funchal e temos ainda outros projetos a fechar. Os primeiros cinco anos na área foram difíceis, anos de perda, e não de ganhos. Só a partir de 2013 é que começou a evoluir significativamente. Atualmente, é um negócio rentável, daí a ambição de abrir um hotel por ano.  

Mencionou o Mosteiro de Santa Clara, um projeto hoteleiro do grupo, agrupado num segmento premium, que não tarda a abrir portas. O que nos pode revelar sobre o complexo?
O Mosteiro de Santa Clara tem tudo para que seja um dos melhores hotéis do Norte. Este hotel de cinco estrelas fica situado em Vila do Conde e é um segmento muito alto, cujo investimento ronda os vinte milhões de euros. Com oitenta e sete quartos, envolve spa, piscina interior e dois restaurantes, um dos quais geridos pelo chef Vítor Matos. Existirá também garrafeira, que ficará num piso que descobrimos que estava enterrado há muitos anos, desde a construção do edifício, e que nunca foi utilizado. Falamos de um complexo que tem por volta de seiscentos anos.  

Qual foi a maior dificuldade do projeto?
A maior dificuldade foi a questão da arqueologia, que é algo que temos de aprimorar em Portugal. Uma obra que poderia ser finalizada no espaço de um ano, atualmente leva três ou quatro a mais. O Mosteiro de Santa Clara levou três anos, sendo que já devia estar finalizado faz tempo. Com isto não estou a afirmar que devemos vandalizar as questões históricas, mas devia ser um processo mais célere. 

Relativamente à formação e gestão das equipas do hotel, é o grupo do Domingos que trata? 
Existe um diretor geral, em cada unidade. Depois, dentro de cada unidade há um diretor e a sua respetiva equipa. Na sede, aqui em Braga, temos uma central de reservas e a vertente comercial dessas unidades. Quanto à formação, temos, por exemplo, pessoas num hotel dos Açores a ter formação para vir para o cinco estrelas em Vila do Conde, aquando da sua inauguração. 

«A ambição de abrir um hotel por ano»

Mas tem sido fácil arranjar colaboradores?
Começa a ser difícil, há falta de mão de obra. Encontramo-nos a recrutar pessoal de Cabo Verde para a vertente do turismo, mas também há falta de gente na construção civil.  

Para se adaptar ao universo da metalomecânica é necessário estar na vanguarda das novas tecnologias. De que forma é que o grupo garante os melhores projetos?
A metalomecânica é um investimento mais recente. Tem ainda dois anos de aquisição e foi uma marca que adquirimos num processo de insolvência, pelo que pertencia a uma empresa que já trabalhou para o Grupo Arliz. Nós sabíamos que era uma marca bastante evoluída e com bons equipamentos. Quando surgiram as dificuldades, fomo-nos aproximando e optamos por adquirir o estabelecimento. Neste momento, a empresa está a trabalhar muito bem. Estamos focados na França, porque é um mercado que tem mais valor acrescentado, comparativamente a Portugal. Pretendemos apostar na Suíça também. Há poucas empresas em Portugal que consigam garantir projetos diferenciadores como nós. Eu gosto de estar sempre a investir, ainda para mais numa área de inovação como a metalomecânica.  

Como surgiu a necessidade de criar a marca Parques VE, a empresa que faz a gestão dos parques de estacionamento do grupo?
A marca VE é muito antiga, foi adquirida em 2003. Apareceu quando surgiu a conceção dos parques subterrâneos em Valongo. Na altura, um cliente nosso tinha essa concessão e, devido à idade, queria abandonar o projeto, pelo que nós ficámos com a marca. Hoje, temos os parques em Valongo, Ermesinde e Gaia, embora não seja a área em que mais estejamos a apostar, até porque quando chegámos a este setor já era tarde, o mercado já estava bastante absorvido. A oportunidade que existia era fora das metrópoles, e assim aproveitámos.  

Do domínio da Arliz faz, ainda, parte a área dos seguros... 
Também o ramo dos seguros é o que menos aposta tem por parte do grupo, juntamente com a marca VE. A área de seguros vai continuar a crescer, mas a dos parques de estacionamento só evolui se fundirmos com outra empresa de rendimentos. Aliás, já que falamos em rendimentos, além da promoção imobiliária temos uma empresa que compra ativos e põe em rendas. E os parques VE talvez um dia passem por fazer uma fusão com esta nossa empresa.  

Áreas como a metalomecânica dependem, cada vez mais, da inteligência artificial para o seu funcionamento e, cada vez menos, da força humana. Acha que podemos estar a cair num ciclo de desumanização, graças a primazia das máquinas?
Sim e não. Mas, com a falta de mão de obra existente em Portugal, parece não existir outra solução. 
«Há falta de mão de obra em Portugal»

Considera que Portugal é um país com capacidade para gerar grandes negócios, olhando aos impostos e à inflação?
Bem, quanto aos impostos, eu acho que há países em que a questão é pior. Nós também somos um povo que reclama muito. É verdade que a carga fiscal das empresas é pesada, mas, se olharmos para os países que estão mais desenvolvidos que nós, percebemos que a carga fiscal deles é maior. Quanto à capacidade que Portugal tem para gerar negócios, eu penso que o país é pequeno, mas tem boas oportunidades. Atualmente, é um dos países mais seguros do mundo, que está a ser procurado por outros economicamente mais estáveis. Sei de um exemplo rápido que comprova as valências de Portugal: em Paris, há dez anos, comprava-se o metro quadrado de habitação a seis mil euros. Hoje, está a trinta mil. Mas em Lisboa, há dez anos, comprava-se a dois ou três mil euros o metro quadrado, sendo que atualmente se encontra a catorze ou quinze mil euros. Isto tem que ver com o crescimento das cidades e, ainda que tenha aumentado o custo da habitação, continuamos a ter melhores ofertas do que outros países. E há outra questão. Nas notícias, leem-se as dificuldades dos jovens em pagarem rendas nas metrópoles, mas em Nova Iorque e Boston as pessoas vivem a 100 km de distância do trabalho. Se Portugal quer crescer, tem de perceber este ritmo. 

O que tem em mente para o futuro do Grupo Arliz?
Consolidar as quatro áreas de negócio em que estamos a incidir mais: hotelaria, construção civil, promoção imobiliária e metalomecânica. 
Joana Rebelo
T. Joana Rebelo
F. André Rolo
Política de Cookies

Este site utiliza Cookies. Ao navegar, está a consentir o seu uso. Saiba mais

Compreendi