VillaseGolfe
· Vinhos
· · T. Redação · F. Direitos Reservados

Programa de Sustentabilidade dos Vinhos do Alentejo

Como o Alentejo elevou os seus vinhos

Villas&Golfe Pub. PUB HOMES IN HEAVEN Pub.
Vidago Villa Pub.
PMmedia PUB Pub.
Herdade do Grous
As inegáveis mudanças climáticas traduzem-se em igualmente inegáveis impactos nas regiões vinícolas um pouco por todo o mundo. Mas há muito que no Alentejo a produção evolui de forma a atender às necessidades do presente, sem comprometer a vivência e o trabalho das gerações futuras. A este pensamento, que felizmente se traduz hoje em múltiplas ações, chama-se sustentabilidade. Portugal, o quarto maior país na produção mundial de uvas e nono na produção de vinho, enfrentou no passado incêndios florestais catastróficos e já vive meses com secas extremas. Torna-se por isso urgente minimizar os impactos que o futuro certamente trará. Também a pensar nisso, a Comissão Vitivinícola Regional Alentejana, organismo que controla, protege e certifica os vinhos da região, uma das maiores produtoras de vinho em Portugal, criou em 2015 o Programa (pioneiro) de Sustentabilidade dos Vinhos do Alentejo (PSVA). Hoje, quase metade das vinícolas já se encontram ao abrigo destas boas práticas, cujo grande desafio é atingir uma vantagem competitiva sustentável garantindo o equilíbrio entre um setor economicamente viável e um desempenho ambiental que tenha um impacto positivo na sociedade. E este programa já é exemplo para todo o país.
A Villas&Golfe foi conhecer três produtores que há muito trilham um caminho rumo às práticas sustentáveis. Entre os critérios exigidos para obter a distinção, a comissão destaca a implementação de práticas agrícolas que potenciam a proteção dos solos, a promoção da biodiversidade, o uso eficiente de energia e de água, o recurso a energias renováveis, assim como materiais mais sustentáveis nas embalagens utilizadas na expedição do néctar mais antigo (e famoso) do mundo. Práticas rígidas que não permitem o uso de pesticidas, respeitam recursos naturais, a biodiversidade e o ritmo da natureza. Estas iniciativas requerem também responsabilidade social, que envolvem não só os colaboradores, mas também a comunidade local. A certificação é opcional, já que tem custos. Mas dá retorno, com os países estrangeiros a notarem um acréscimo entre os 5 e os 10% nas vendas. O novo selo de certificação de Produção Sustentável da Comissão Vitivinícola Regional Alentejana (CVRA) também veio ajudar a melhorar as práticas utilizadas nas vinhas e nas adegas.
A nossa visita começou pela Herdade do Grous, em Albernoa, muito próximo de Beja, precisamente porque este foi o primeiro produtor a obter a garantia de produção sustentável da CVRA. Connosco, à mesa, e num passeio pela adega e pela vinha, acompanhou-nos o engenheiro Luís Duarte, nome incontornável da enologia em Portugal, eleito três vezes o melhor enólogo de Portugal, gerente e enólogo da Herdade dos Grous. Descontraído, começou por referir que há muito que é claro para os produtores da região «que as alterações climáticas teriam um efeito devastador se nada fosse feito». E ele, um forte impulsionador da prática sustentável, vestiu a camisola. «A nossa missão consiste em privilegiar o ambiente e o bem-estar dos nossos colaboradores, porque tudo isso se vai refletir no presente e futuro da comunidade local.»

Hoje, quase metade das vinícolas já se encontram ao abrigo destas boas práticas

No Grous, a adesão ao programa foi quase imediata. Começaram em 2015 e durante cinco anos trabalharam para conseguir corresponder a todos os parâmetros. «É um programa muito exigente», confessa Luís Duarte. Nesta herdade, que desde 1996 pertence a família alemã Pohl (donos do afamado Vila Vita Parc Resort & Spa, no Algarve), a agricultura biológica implica ações integradas bastante curiosas. Na adega, por exemplo, o enólogo conta-nos que a preocupação essencial foi fazer algo pragmático. «Não precisamos namorar com a adega. A adega serve para fazer vinho. Não precisa ser bonita, precisa de ser eficaz, funcional. Por exemplo, aqui não há desperdício de água, com menos água lava-se mais e melhor.» Na vinha, as preocupações acabam por ser as mesmas.
A manutenção e reflorestamento do montado, as sementeiras de pastagens permanentes biodiversas e a promoção de bancos de habitats para polinizadores servem para potenciar o aumento do sequestro de carbono. Por isso, desengane-se quem achar que a erva por entre as vinhas é sinónimo de desleixo. Aqui, tudo foi estudado. Se elas ali estão é porque ajudam a proteger as vinhas, retendo mais água no solo, por exemplo. Os abrigos para morcegos e abelhas também não estão ali por acaso. O chamado «suporte aéreo» serve para combater as pragas. O uso de painéis solares e de albufeiras geram poupança de energia e de recursos. No final da visita ficam-nos na memória os 1.100 hectares, dos quais 133 estão repletos de vinha, 140 de olival, misturadas com pasto, uma fascinante barragem, belas árvores de fruto e pântanos. Também não faltam cabras, porcos pretos, cavalos, ovelhas. Tudo integrado com hotelaria, pensado para contribuir para um ecossistema sustentável.
Desde que foi criado, em 2015, o Programa de Sustentabilidade dos Vinhos do Alentejo (PSVA) tem dado largos passos para tornar o Alentejo na primeira região sustentável do país. O programa acompanha e aconselha os produtores associados ao longo de todo o ciclo da produção do vinho. Seguindo um sistema de melhoria contínua que se destina a três setores distintos – Viticultura; Adega; Viticultura & Adega – e trabalha a sustentabilidade em três eixos, ambiental, social e económico, já que tem como objetivo produzir uvas e vinho de qualidade e de forma economicamente viável, ao mesmo tempo que pretende proteger o meio ambiente e melhorar as relações com os colaboradores e vizinhos. Ao todo, o Programa de Sustentabilidade tem 171 requisitos que os associados devem seguir. Utilizar o pasto das ovelhas para fertilizar os solos e controlar o crescimento das ervas, fazer a gestão adequada da água, apostar na eficiência energética, reduzir o uso de pesticidas, reduzir a produção de resíduos e proteger a biodiversidade são algumas dessas medidas.
Reto Frank Jörg (um holandês-suíço que por estar há 35 anos em Portugal também já é português) gere a bela Quinta do Quetzal, na encosta da Vidigueira, perto da mais antiga adega romana de que há registro na Península Ibérica. É o clima da região e as características únicas do solo, rico em xisto, que resultam nas uvas diferenciadas, sempre em quantidades limitadas. «Quase todo o terreno é uma reserva ecológica», contou-nos o gerente. Mas as mudanças de clima obrigaram a que, com o tempo, fossem mudando as castas plantadas. Começou com Aragonês e Tinta Beira. Hoje tem muito menos dessas, e mais de outras que se adaptam melhor nesta altura, e para os próximos 15 a 20 anos. A orientação das vinhas também é diferente, dependendo das castas. «Porque é que adaptamos o plano de sustentabilidade? Porque é importante, não é só porque a palavra está moda», refere Reto, «a vitivinicultura sustentável não é apenas uma tendência, é a sobrevivência de uma região onde a água é escassa», aponta Reto, que há muito percebeu que só assim se protege o rico solo e o bom vinho.

O programa acompanha e aconselha os produtores associados ao longo de todo o ciclo da produção do vinho

Aqui também é prática o enrelvamento da vinha, que causa menos erosão, «protegemos a qualidade da terra», que mais não é do que o garante do futuro desta quinta, que hoje produz 200 mil garrafas, nos seus esplêndidos 50 hectares de vinha, onde até há música. Tudo aqui está envolvido em arte. Por isso a uva escuta música desde a terra, até ao estágio. Uma vez na adega podemos constatar que, apesar de moderna, foi construída de forma a evitar desperdícios, nomeadamente de água, mas preservando as antigas tradições e técnicas de produçãoromanas e alentejanas.
Por fim, visitamos a Herdade da Malhadinha, onde 80 hectares de vinha brotam por entre suaves encostas de um solo xistoso e drenado, num terroir que respeita e integra o ecossistema e a biodiversidade existente. Na visita à magnífica herdade ficamos a saber que as cinco barragens espalhadas pela propriedade servem para acumulação de água das chuvas, que as estacões meteorológicas permitem monitorizar o correto crescimento das plantas e que as sondas de humidade ajudam a gerir o nível de stress hídrico por forma a maximizar a qualidade das vinhas. Os corredores biológicos, estrategicamente plantados, permitem atrair uma maior diversidade de fauna que permite o combate aos inimigos da vinha, evitando o recurso a tratamentos artificiais, como pesticidas.
A Herdade da Malhadinha Nova, – que mantém vivas as tradições alentejanas, no que toca à produção de azeite, mel e produtos hortícolas, nas suas hortas biológicas e estufas, criando raças autóctones em perfeita harmonia com a envolvente natural – também faz parte do Programa de Sustentabilidade dos Vinhos do Alentejo, e é um dos primeiros produtores do país a receber este selo. Aliás, aqui, o respeito pelo é a linha orientadora de atuação desde a primeira hora. Algo extensível ao domínio social e económico, está na génese de toda a plantação e ocupa o topo das propriedades do projeto agrícola. Com a ação do homem reduzida ao mínimo, pratica-se uma agricultura biológica, saudável e extensiva.
Vamos a exemplos concretos. Nestas terras, por entre a vinha e o olival, encontramos cobertos vegetais, mais rasteiros, espontâneos, autóctones, que retêm a humidade nos solos. Mas também há espécies mais florísticas para atrair insetos amigos da natureza e das produções. Outra tendência são as sebes multinacionais, medronheiros, alecrins, alfazemas, giestas, que ao ficarem em flor atraem auxiliares; as sebes também ajudam a limitar as pragas, preservam e protegem ninhos de aves e morcegos que durante a noite conseguem ingerir metade do seu peso em insetos (comem bons, mas também comem os maus, que no caso é o que mais importa), conseguem atrair aves de rapina que afugentam os estorninhos (uma praga terrível, comem as uvas todas); etc.

Além da qualidade dos vinhos, já se notam poupanças significativas nos gastos de água e eletricidade

De resto, a apologia é sempre a de tratar o mínimo indispensável e o máximo que seja necessário. Rita Soares, uma das proprietárias da Herdade da Malhadinha Nova, frisa a importância do Programa de Sustentabilidade, que vem ajudar a documentar os passos importantes que se estão a dar neste momento. «Sem organização nada se faz.» Ao seu lado, o engenheiro José Luís Marmelo falou apaixonadamente do projeto que esta equipa trata com todo o afinco e carinho. «Tem sido desafiante para nós e para as plantas. Aqui trata-se casta por casta, zona por zona. Ajustamos tudo com precisão, com sensibilidade. A melhoria contínua é determinante, cada ano é um novo desafio.»A Herdade da Malhadinha Nova encontra-se, desde 2017, em modo de exploração totalmente biológico. O melhor é que, além da qualidade dos vinhos, já se notam poupanças significativas nos gastos de água e eletricidade. Todas as estações de tratamento de águas sanitárias na Malhadinha são reaproveitadas para rega depois de terem sido tratadas em ETARES biológicas, através de plantas específicas aquáticas, as hidrófitas.
Atualmente, 40% da energia utilizada na Malhadinha Nova é gerada na herdade, em boa parte pela utilização de energia solar em todas as unidades de alojamento da propriedade, pelas caldeiras de aquecimento a lenha proveniente da poda das azinheiras seculares existentes na propriedade, pela recuperação e construção de todos os edifícios com técnicas tradicionais e materiais de elevada eficiência energética.
O PSVA já conta com 510 membros e 11036 hectares de área abrangida e representa mais de 48% da área de vinha do Alentejo. São responsáveis pela produção de quase 80 milhões de litros de vinho de Denominação de Origem e Indicação Geográfica. Desses membros, apenas dez estão certificarmos pelo Programa de Sustentabilidade. Mas essa a certificação não é estanque, ou seja, os produtores são certificados por um período de cinco anos, com auditorias internas anuais, portanto é do interesse da CVRA garantir que os produtores mantêm a bitola. E é do interesse dos produtores manterem essa certificação porque fizeram um elevado investimento.
Herdade do Grous
Herdade do Grous
Herdade do Grous
Herdade do Grous
Herdade do Grous
Herdade do Grous
Quinta do Quetzal
Quinta do Quetzal
Quinta do Quetzal
Quinta do Quetzal
Herdade da Malhadinha Nova
Herdade da Malhadinha Nova
Herdade da Malhadinha Nova
Herdade da Malhadinha Nova
Herdade da Malhadinha Nova
Herdade da Malhadinha Nova
Redação
T. Redação
F. Direitos Reservados
Política de Cookies

Este site utiliza Cookies. Ao navegar, está a consentir o seu uso. Saiba mais

Compreendi