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· Quinta · · T. Maria Cruz · F. ©PMC

Herdade da Rocha

«O vinho é uma arte»

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Sala dos lagares
A paixão pelo Alentejo e pelos vinhos levou Mário Rocha – CEO da Antarte Mobiliário – a iniciar um projeto vitivinícola na região do Crato (no Alto Alentejo), em 2007. Na primeira vez que visitou a propriedade, o empresário apaixonou-se por ela de imediato. «Foi amor à primeira vista», revela-nos. Comprou-a. Atribuiu-lhe o nome: Herdade da Rocha. O que faz todo o sentido se pensarmos que o próprio apelido da família é «Rocha» e o lugar onde se situa a herdade é todo ele preenchido por enormes penedos, que carregam muitos anos de história.  E é na história da família «Rocha» que Mário e a sua esposa, Zita, pretendem deixar o seu contributo através dos seus projetos, nomeadamente este que é inovador e diferente do que, até então, estavam habituados. Mário Rocha é um homem de ideias fixas. Por isso, criou este novo conceito da Herdade da Rocha, que fomos conhecer, com toda a emoção, empreendedorismo e, acima de tudo, com muita paixão.   

O que o levou a criar o projeto Herdade da Rocha?
Foi a paixão pelo Alentejo e também pelos vinhos. Em 2007, procurava uma propriedade aqui (no Crato). Se não fosse na Serra de São Mamede, pelo menos no Alto Alentejo, pois sabia que esta região era privilegiada para a produção de vinhos. Acabei por encontrar esta magnífica propriedade e apaixonei-me no primeiro dia em que a visitei.

Em que estado encontrou a propriedade?
Era mato e muita giesta. Havia uma parcela boa de olival, direi até centenária, e depois existiam outras áreas. Áreas essas que é onde nós temos, atualmente, a vinha plantada. O que me encantou nesta propriedade, e o que é muito diferente do habitual do Alentejo, é a forma como entramos. À medida que vamos avançando, vemos logo toda a propriedade, de 200 em 200 metros. E depois, todas estas rochas, com as quais me identifico bastante e que são lindíssimas! Foi realmente um amor à primeira vista. Lembro-me de ver, ao longe, uns veados. Pensava eu que eram vacas, por ignorância minha, pois nem sabia que havia veados selvagens. Quando os avistei perguntei ao Sr. Francisco (pessoa que me mostrou a propriedade): «Afinal ainda ali há vacas?». Respondeu: «Não. São veados. E andamos precisamente à procura deles, pois é habitual eles andarem por cá». O Crato é uma vila histórica, tem influências da Serra de São Mamede. No mesmo dia tomei a decisão de comprar. Aconteceu em finais de 2007.

Portanto, desde 2007, começaram a fazer desta propriedade a Herdade da Rocha?
A primeira coisa que fizemos foi registar o nome (Herdade da Rocha). Achámos que se enquadrava, por todo o seu território, pelas rochas que se encontravam cá e também porque nós somos da família Rocha. Antigamente, e ainda hoje, o local era conhecido como o Couto Saramago. Não tem nada que ver com o Saramago (escritor). De seguida, talvez em simultâneo, trabalhámos no projeto da plantação da vinha. Foram precisos direitos. São doze hectares de vinha. Trabalhou-se nisso cerca de dois anos.
«Dada a sua dimensão, a propriedade permite que tenhamos cá um campo de golfe»
Falando da vinha. Quantas castas compõem a vinha?
Temos várias castas. Castas autóctones, castas que não são autóctones, como é o caso do Alicante Bouschet e do Syrah (mas têm um comportamento muito bom aqui no Alentejo). E temos a Touriga Nacional e a Touriga Franca. Em termos de tintos, temos estas quatro castas. Em termos de brancos, temos três: o Alvarinho (que é um desafio, sendo eu do Norte), o Arinto (que é a casta mais predominante nesta região) e a Viognier (que é para lhe dar aqui alguma dimensão internacional e para conseguir também vinhos com um pouco mais de volume).

Plantação da vinha, desafio concluído. O que veio a seguir?
Em 2009, plantámos a vinha. Em simultâneo iniciámos o projeto para esta casa (atual Boutique Lodge). Era a casa da família, à época.

E depois?
A casa ficou construída. Estivemos até 2013 a aguardar energia (luz). Quando comprámos a herdade isto era mato, uma pequena selva. Foi tudo feito de raiz. Em 2013 conseguimos energia, mobilámos a casa, começámos a passar cá alguns dias e alguns fins de semana. Entretanto, os nossos filhos foram crescendo, a vontade de virem já não era a mesma, porque tinham outro tipo de agendas e, então, nós não conseguíamos vir tantas vezes. Entretanto, a nossa filha mais velha, a Mária acaba por se formar em hotelaria e lançou o desafio de entregar isto ao Alojamento Local. Explorámos o espaço, no sentido de promover não só o projeto, mas os vinhos. Com as quatro suites no exterior, mais os quartos da casa, criámos condições. Criámos o Boutique Lodge, com uma decoração diferente. Em 2017, abrimos o espaço aos hóspedes. 
«A adega é muito virada para as visitas, para o turismo»
Que experiência pode usufruir, aqui, um hóspede?
É uma oportunidade única para ter um contacto com a natureza e descansar, acima de tudo. As pessoas têm de ter oportunidades de descanso. O silêncio que conseguiu sentir cá, durante o fim de semana, acho que deu para perceber. Depois têm a oportunidade de ter uma experiência dos vinhos, de fazer provas, visitar a adega.

Caminhar, andar de bicicleta…
Claro. Para ter contacto com a natureza é necessário caminhar ou andar de bicicleta. Temos aqui a possibilidade de observação da natureza, dos animais; é um lugar fantástico para passar cá uns dias...

E, ao longo da propriedade, foi criando espaços distintos?
Sim. Temos a oportunidade de fazer um piquenique junto à vinha, onde tem um ambiente agradável. Aproveitámos a parte natural e compusemos. Por exemplo, temos mesas no meio de duas rochas cobertas. Temos mesas para esses mesmos piqueniques debaixo das azinheiras, que têm uma sombra fantástica, e é totalmente limpo. Ainda em fase final, está uma tapada com cerca de 8 hectares, que será possível percorrer, e onde vai ser construída uma ponte sobre uma reserva de água, com pontos de ligação entre rochas. Vai ser criado um passadiço de madeira (já está uma grande parte) para ser possível observar os animais autóctones da região, nomeadamente o veado, que é a nossa imagem; o javali; o coelho lebre e outras espécies. Não será um jardim zoológico, não será um parque natural, mas será um espaço de 8 hectares onde as pessoas podem observar os animais autóctones no seu habitat natural.

Há ainda um espaço muito diferente… quase de meditação, não é?
Sim. Esse é um outro projeto que tencionamos levar para a frente. Naquele lugar há um ângulo de visão magnífico sobre a natureza. Trata-se de uma grande rocha, à qual temos fácil acesso, e, em cima desse penedo, proporcionamos uma visão alargada sobre um pôr do sol transcendente. A minha vontade é fazer desse lugar uma espécie de retiro espiritual, homenageando alguém, que agora não posso divulgar, e criar ali um espaço onde as pessoas se sintam bem e que seja um retiro de paz.

Tem, também, um espaço muito especial na Herdade da Rocha que, de vez em quando, serve para descomprimir do stress do dia a dia…
Sim. O golfe. Dada a sua dimensão, a propriedade permite que tenhamos cá um campo de golfe. Estamos a fazer a experiência. Ainda não está concluída. O campo ainda não está homologado. No Alentejo temos dificuldade com a água, tivemos de criar um campo de golfe ecológico. Estamos a criar uma espécie de relva que necessita de pouca humidade (os americanos foram os primeiros a avançar com isso). Na Europa é pouco utilizado. O objetivo, num futuro próximo, será fazer dele um campo de golfe não de alta competição, mas, sim, de golfe turístico.

Neste momento quantos tees de saída tem o campo?
Temos quatro buracos a funcionar.

E a adega quando surgiu?
A adega ficou concluída só agora, mas já produzíamos cá os vinhos. A parte subterrânea da adega tem cerca de 1000 m². Tem uma parte superior, que é uma pérola, que permite às pessoas fazerem provas de vinho. É onde temos os lagares. Ali é feita a vinificação. O estágio é feito na zona subterrânea (zona com um pé direito de 8 m). Quisemos juntar à adega a componente da arte. Por isso, a adega é muito virada para as visitas, para o turismo. Tem um espaço que pode servir até para as empresas e grupos fazerem conferências, retiros, etc.

«O projeto foi criado a pensar na qualidade e não na dimensão»
Porque quis juntar arte ao vinho? O vinho também é uma espécie de arte?
É uma grande verdade. O vinho é uma arte. Uma adega pode ser um museu em simultâneo. É um espaço cultural, não só pela cultura do vinho, mas também porque a adega é uma espécie de indústria. É uma indústria que trabalha fortemente um mês por ano e depois há 11 meses em que lhe temos de dar ocupação. A paixão que tenho pela arte, e por vários artistas plásticos contemporâneos que conheço, fez-me lançar-lhes o desafio de criarem também algumas peças para a adega. Se olharmos para as portas, elas têm arte incorporada; se olharmos para toda a pedra, ela tem arte incorporada. Não tenho dúvidas de que fiz aquilo com muita paixão e que ficou um espaço muito agradável.

Que artistas estiveram envolvidos neste projeto das obras de arte?
Temos obras de vários artistas. As portas são do Paulo Neves, artista urbano. Também tivemos uma forte intervenção da equipa de design da Antarte, que desenvolveu, em conjunto, o trabalho na adega. Temos, também, obras de um escultor que trabalha essencialmente o aço corten, o António Miguel, que é algarvio; temos um painel grande de azulejos feito por uma holandesa que está em Portugal, a Meinke Flesseman; e depois temos outras obras que trouxemos de fora, do Japão, da Indonésia.

E aquelas pinturas junto à zona do lagar?
São do Fábio Carneiro. Toda aquela pintura representa a Antarte. Inspiramo-nos na própria natureza: a relação da ondulação com a cor terra… ao mesmo tempo que lhe demos uma forte componente artística e de design. Para a zona dos lagares criou-se aqueles desenhos de forma a enquadrarem-se nas paredes. A obra do Fábio tem cerca de 50 m por 5 m de alto. O Fábio Carneiro inspirou-se em obras da mesma época do vinho e daí encontrarmos a figura de Baco, o famoso deus do vinho; e a Mona Lisa. São clássicos. Temos ali refletida a Capela Sistina, temos Michelangelo.

A sala das barricas é muito discreta…
É o salão nobre. É um projeto do nosso designer (Antarte), é onde estão as barricas todas. É um projeto nosso, meu, da Sónia e da Paula. Essa sala situa-se entre três partes da adega. A sala dos lagares, e os próprios lagares, são um desafio lançado ao Fábio. O salão nobre, sala das barricas, está soterrado, isolado, tem isolamento térmico e a própria decoração em madeira foi toda desenhada e desenvolvida na Antarte. As portas da adega são de madeira sustentável, que veio diretamente dos Açores. Começámos a construir a adega em 2013, e estamos em 2018. Demorou cinco anos a concluir a adega.

Passando para os vinhos. O que nos oferece a Herdade da Rocha?
Estamos numa região de difícil produção. São solos graníticos, de muito calor, mas com temperaturas baixas. Por isso o vinho tem frescura, muita concentração, muita qualidade, mas é muito diferente de muitas regiões. As produções são baixas. Há regiões no país onde se consegue tirar 10 toneladas por hectare e, em algumas, até mais. Nós, aqui, dificilmente conseguimos mais do que 5 toneladas por hectare. Este ano, foram até menos, pelas razões conhecidas, mas a média, considerando 2017 (que não foi um ano cruzeiro), aproxima-se muito das 60.000 garrafas. Porém o projeto foi criado a pensar na qualidade e não na dimensão. E em tentar, claro, caracterizar esta região fazendo vinhos ao nível dos melhores.

Que vinhos temos?
Começámos por lançar os vinhos da marca Couto Saramago (Branco, Tinto e Rosé). Foi a entrada da gama. Depois temos a Herdade da Rocha Selecção, que é, como quem diz, o nome de uma seleção das melhores uvas e dos melhores lotes de vinhos. E temos o Rocha Especial Reserva. São os três tintos que habitualmente saem todos os anos. Estamos a fazer agora um produto diferente, que é tirar o melhor que têm as castas nesta região. Estamos a criar um monocasta, mas só o engarrafamos quando for classificado. Quando atingir um nível superior de cada vinho fazendo um lote de premium. Neste momento estamos a lançar o Alicante Bouschet Premium. A nossa intenção é fazer mais monocastas, no que diz respeito aos tintos. Nos brancos, temos o Couto Saramago para entrada e temos o Herdade da Rocha Reserva. São dois perfis idênticos, dois vinhos frescos, só que um, como é uma reserva, tem o seu estágio em madeira e tem também um estágio em garrafa. O outro é um vinho mais fresco, mais direto, mais simples no consumo normal.

Qual é o seu vinho predileto?
Depende do dia e da altura do ano. E, acima de tudo, depende da refeição. Se estamos num dia quente, e se temos uma refeição mais leve, sinceramente gosto e acompanho muito com um branco. Como estamos no final de outubro, daqui para a frente vou privilegiar os tintos. E, dentro dos tintos, o Reserva Especial. Agora estou muito entusiasmado com os monocastas. Talvez por ser uma experiência diferente: para quem participou na plantação da vinha e acompanhou todo o processo da vinha, acho que os monocastas criam outro entusiasmo.

E os rótulos. Porquê personalizá-los daquela forma?
Todos os rótulos têm um veado associado. O veado, além de ser um animal muito característico nesta região, é um animal de que gosto imenso. Investimos nesta propriedade pelo facto de encontrarmos cá veados, por isso associamos a imagem ao veado. Agora, cada vinho tem o seu rótulo. Por exemplo, os brancos têm um veado com uma textura de azulejo. Como o azulejo normalmente é azul, associamos a frescura ao branco. Para o branco Reserva convidámos um artista a fazê-lo. E o Herdade da Rocha tinto também. É um vinho com mais tempo, por isso, o rótulo é mais escuro, tem aquelas triangulações de cores. Na gama de entrada temos um rótulo branco. O Grande Reserva foi feito pelo Paulo Neves. Não irá ficar só na colheita de 2015, na reserva especial, como vai permanecer ao longo dos próximos anos nos vinhos monocastas, nos premium.

Nos próximos tempos vamos encontrá-lo mais à volta do mobiliário (Antarte) ou dos vinhos (Herdade da Rocha)?
Gostava de continuar como estou. Gosto muito daquilo que faço. Diria que estou a dedicar-me, e continuo a dedicar-me, 80% ao mobiliário, nomeadamente à criatividade em relação aos produtos, e, sempre que posso, os fins de semana, passo cá, nas vinhas. Obviamente que, no período das vindimas, dediquei-me só 50% a cada área. Mas, agora terminadas, vou voltar ao normal. Tenho uma grande paixão pela minha atividade profissional. Gostava de continuar assim. Este é um projeto claramente de emoção, de muita paixão, em que dedico o tempo com paixão, mas não me posso distrair, porque a empresa (Antarte) depende muito de mim. 


Mário Rocha no golfe em frente à adega
Mário Rocha no golfe em frente à adega
Boutique Lodge
Boutique Lodge
Boutique Lodge
Boutique Lodge
Sala dos lagares
Sala dos lagares
Mário Rocha e Zita debaixo da azinheira
Mário Rocha e Zita debaixo da azinheira
Vista para a Herdade da Rocha
Vista para a Herdade da Rocha
Casa da família na Herdade da Rocha
Casa da família na Herdade da Rocha
Mário Rocha na sala das barricas, Salão Nobre
Mário Rocha na sala das barricas, Salão Nobre
Vinhos da Herdade da Rocha
Vinhos da Herdade da Rocha
Maria Cruz
T. Maria Cruz
F. ©PMC
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