O arquiteto tem duas grandes características, a
sustentabilidade e a preocupação com a envolvente. Quando é que isso começou?
Acho que a paisagem também tem de ser sustentável. Eu vejo
isto desde que me formei. Sempre tive essa preocupação. Só que há uns anos a
gente falava disso e todos queriam: «vamos ser sustentáveis!» Mas quando viam a
conta diziam: «espera, afinal vamos tirar os painéis fotovoltaicos…». A Casa
Encarnada, por exemplo, é, diria eu, 95% auto-suficiente. Nós enquanto cidadãos
temos essa obrigação. Ponto final, parágrafo. E temos que lutar por isso. Temos
de obrigar os nossos clientes. As coisas não são só números, negócios, ganhar
milhões. Não, nós temos de fazer as coisas com grande dignidade e respeito, acima de
tudo pelos mais fracos, porque são esses que pagam sempre a fatura, não são os
mais fortes. E, portanto, a sustentabilidade é algo que se refere a tudo na
nossa vida. Tenho isto desde pequenino. Os meus pais deram-nos a todos
formação, mesa, cama, roupa lavada. O meu pai nasceu pobre e morreu pobre, mas
conseguiu dar tudo aos 13 filhos. A minha mãe, por exemplo, quando um apanhou
sarampo, pôs todos no mesmo quarto, só se chamou o médico uma vez (risos).
E quando ia a Badajoz, vestia-nos a todos com duas marcas, Levi's, que na
altura era um produto de luxo, e Lacoste. Porque essa roupa passava de uns para
os outros. E umas calças da Levi’s lavavam-se menos vezes, também dava poupança
na lavandaria.
Estamos num boom da
construção de se criarem espaços e micro espaços e estão a mudar-se um pouco
aquilo que podem vir a ser os futuros ambientes familiares, a pandemia não
abrandou o boom do turismo, nem vai, e estamos todos muito focados no turismo e
no vender e quanto mais dinheiro se conseguir fazer…
Nós temos dois ou
três petróleos no nosso país. Um deles é o turismo, mas esse só tem sustentabilidade
se nós conseguirmos salvaguardar a identidade dos sítios, e o risco que se
corre decorre das vaidades, e muitos arquitetos são incapazes de perceber como
é que se constroem as identidades. As identidades constroem-se, obviamente, com
conhecimento, constroem-se com o clima. Faz-me grande confusão ver nascer uma
série de torres de habitação que é tudo em vidro, não sei como é possível
falar-se tanto em sustentabilidade e estar-se a aparecer tanta construção
completamente em vidro. As pessoas que vão para lá viver vão pagar caro a
energia para criar bom ambiente de estar, climatização. Os materiais
autóctones, se formos a ver, foram aqueles que construíram verdadeiramente as
identidades. Portanto, temo é que agora o fazer bonito destrua muitas identidades.
Os novos arquitetos estarão preparados para isso?
Não faço ideia, eu faço o meu percurso, sigo o meu caminho.
Aqui dentro do atelier acreditamos no que acreditamos, fazemos o nosso
papel. Nós, e eu, já não estamos em idade para andar a tentar emendar o mundo.
A nossa obrigação é que cada um faça o seu papel bem feito, cumpra a sua
obrigação.
«Já não estamos em idade para andar a tentar emendar o
mundo»