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Mário Martins

«As dificuldades tornam-nos mais resistentes»

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F. Maria Rio
Os dias de Mário Martins, arquiteto há mais de 30 anos, tornam-se longos. Começam cedo e acabam tarde. Nada que o impeça de viver profundamente a sua paixão pela arquitetura. Divide o seu tempo entre o atelier do Algarve e o de Lisboa. Procura estar a par de todos os projetos e em contacto direto com os clientes, «apesar de muitos deles se encontrarem fora de Portugal». Conta com o apoio da vasta equipa de arquitetura e engenharia por quem tem um «grande apreço e confiança». Pelas suas mãos, já passaram diversos projetos, desde empreendimentos a habitações unifamiliares. E tem um desejo. Mário gostava de um dia desenhar uma igreja ou um templo, independentemente da religião, «pelo simbolismo e pela vontade de desenhar algo de dimensão espiritual e desconhecida». Gosta do que faz. E o pouco tempo que tem livre passa-o com a família, desfrutando de coisas simples e a pensar, porque sente «uma vontade constante de aprender». Tem dificuldade em definir o limite entre o trabalho e o lazer, porque «talvez, sem querer, esteja sempre a pensar em arquitetura. Desta forma, será a arquitetura uma profissão ou um modo de vida?». Não sabemos. Mas, tal como Mário citou, «não esquecer Niemeyer, quando referiu que "a vida é mais importante que a arquitetura”».
F. Fernando Guerra
Formou-se em arquitetura. Desde que iniciou a sua atividade, até aos dias de hoje, como tem sido o desafio?  
Desde que me formei em arquitetura, e após breves experiências por outros ateliers, que trabalho em projetos dos quais sou autor. Já são mais de 30 anos de uma atividade contínua e intensa, com uma considerável obra construída. Quando me formei, o mundo dos projetos de «arquitetura» era dominado por engenheiros, desenhadores e outros curiosos. Aos arquitetos, cabia uma pequena fatia dos projetos. Diziam que os arquitetos eram caros, chatos e teimosos. Por isso, para quem queria fazer arquitetura, não foi fácil começar nesse contexto, tendo ainda de ultrapassar outros obstáculos. Mesmo assim, não me queixo. As dificuldades tornam-nos mais resistentes. Apesar de a nossa obra hoje ter um reconhecimento crescente, nem sempre foi tão apreciada, nem pelas pessoas, nem pelas entidades, nem pela comunicação social, que reagiam mais negativamente a uma arquitetura contemporânea e depurada. Na altura, ficava triste e magoado. Hoje, já aceito e compreendo a divergência de opiniões e que exista uma certa resistência à novidade. Aliás, sempre assim foi. Os ‘velhos do Restelo’ fazem parte da nossa história. 

Grande parte dos seus projetos situa-se no Algarve, de onde é natural. Falamos de uma das regiões do país onde a imobiliária de luxo se evidencia mais. Quão desafiante tem sido desenvolver projetos a esta escala?
Trabalho para diferentes segmentos de mercado, mas também para diferentes escalas e sítios. Mas, de uma forma natural, têm vindo a surgir oportunidades para trabalhar em diversos empreendimentos e habitações unifamiliares, onde nos têm sido dadas condições para realizar projetos de qualidade, feitos com rigor e grande dedicação, o que deveria ser normal na nossa profissão. Nos projetos de habitação unifamiliar, o maior desafio é a satisfação dos nossos clientes e das suas expetativas, sendo a maior destas a concretização do seu sonho. É um processo muito personalizado, que implica uma vasta equipa de trabalho e o envolvimento direto do cliente, desde a primeira conversa até ao final da obra. O cliente acaba por tornar-se parte da equipa de projeto e, normalmente, fá-lo com grande satisfação e entusiasmo. No final da obra, sinto sempre um misto de orgulho e insatisfação... ficando com a sensação de que algo poderia ser melhorado. É aquela inocente e incessante busca da perfeição que nos faz acreditar e trabalhar apaixonadamente para criar melhores lugares e fazer pessoas mais felizes. Mas o melhor de tudo é, após a construção, ver aquele brilho nos olhos dos nossos clientes, que nos transmite a sinceridade do seu apreço pelo nosso trabalho e nos tranquiliza, porque vamos passar a nossa arquitetura para uma nova fase: para ser vivida. Eles vão dar continuidade ao processo, ajustando-se ao edifício e ajustando o edifício a eles. Para que vivam e envelheçam bem. Eles e o edifício. E, assim, fez sentido o nosso trabalho. 

Olhando para o mercado imobiliário e da construção atual, consegue identificar que região terá um maior potencial de crescimento em Portugal nos próximos anos? 
As regiões com maior potencial de crescimento são as que atualmente já crescem mais. O crescimento atrai mais crescimento, assistindo-se a maiores assimetrias. Esse crescimento vai pressionar as zonas de maior atratividade do litoral e, consequentemente, provocar uma desertificação do restante território. O que nos trará graves problemas no ordenamento do território e na gestão dos recursos.
Precisamos, não de crescimento, mas de desenvolvimento. Desenvolver de forma equilibrada, no tempo e no espaço, com respeito pelos sítios e pelas pessoas. O que dificilmente acontecerá sem a existência de uma estratégia, de um rumo, de propósito a médio e longo prazo. Isso tem de partir de quem decide. E o que acontece é que quem nos governa e nos tem governado fá-lo de forma avulsa, desconexa e simplista para resolver as agendas políticas e eleitorais. 
Tome-se como exemplo: enquanto usa o alojamento local como bode expiatório, o governo mostra-se convenientemente preocupado com o custo da habitação. No entanto, obriga todos os municípios a eliminar as suas áreas urbanizáveis dos seus PDMs, até final de 2023. Ora, a redução das áreas urbanizáveis irá traduzir-se numa menor oferta, com o aumento do custo dos solos e, consequentemente, do custo da habitação. Trata-se de mais uma medida vazia, para responder aos progressivos protestos pelos custos e falta de habitação. Mas conseguir-se-á reduzir o custo da habitação pela redução da oferta? Julgo que não.
Este grave problema da habitação não é pontual, nem circunstancial, mas resultado de um enquadramento mais vasto, que não se esgota em Portugal. Daí que importe definir uma estratégia adequada, ao nível das dinâmicas das populações, migrações, acessibilidades e ordenamento do território, para que se desenvolvam as regiões, cidades e lugares de forma mais equilibrada e justa. Se não houver habitação mais ou menos digna para todos, não haverá desenvolvimento para ninguém. Mas que seja feito numa economia de mercado aberta e nunca coerciva, sustentada no investimento, para criar o bem-estar de todos.

«No final da obra, sinto sempre um misto de orgulho e insatisfação... ficando com a sensação de que algo poderia ser melhorado»
F. Fernando Guerra
Nos últimos anos, a reabilitação urbana tem vindo a conquistar a atenção do mercado imobiliário. Que papel deve assumir o arquiteto neste processo?
Não podemos continuar a criar cidades, a crescer por anéis e a empurrar os mais frágeis para as periferias, enquanto se esvaziam os centros de vida urbana, para torná-los meros pontos de atração turística, onde os turistas, mais cedo ou mais tarde, vão perceber que só encontram outros turistas e que, afinal, aquilo é um parque de diversões. Antes que seja tarde, temos de saber inverter essa dinâmica, para tornar as cidades mais equilibradas e saudáveis, trazendo para a cidade pessoas, atividades, escolas e universidades, entidades públicas e privadas, e repensando a lógica do automóvel. Este é um processo muito complexo e moroso, que vai muito além dos PDMs e da requalificação dos edifícios. Essa requalificação será uma consequência natural desse processo.
É preciso repensar a cidade, para responder aos desafios atuais e futuros, consciente da importância dos recursos naturais. Torná-la mais inclusiva. Uma cidade mais equilibrada e tolerante, para todos: os nativos, emigrantes, turistas e todos mais. Aliás, é desta dinâmica que a cidade precisa e não é mais do que a história nos ensinou.
O papel do arquiteto não se deve esgotar na recuperação das fachadas ou dos edifícios, porque a requalificação da cidade é muito mais do que isso. O arquiteto deve participar ativamente nas várias escalas do desenho, mas também no planeamento urbano, local e regional.  

E, na sua opinião, quais são as tendências que vão marcar o setor imobiliário em Portugal?
As tendências no setor imobiliário seguem a mesma lógica dos outros setores de mercado, onde os operadores de pequena e média dimensão dão lugar aos grandes operadores, com empreendimentos de grandes dimensões e operações de marketing bastante eficazes, para vender um produto anunciado como altamente apetecível. Vai perder espaço o projeto de pequena escala, personalizado, feito à medida. 

Cada vez mais a sustentabilidade é um dos maiores fatores a ter-se em conta nos projetos que vão surgindo. De que forma a arquitetura pode contribuir para este desígnio?
A sustentabilidade é uma palavra em voga, por vezes, porque fica bem falar-se dela, mas nem sempre se sabe do que se está a falar. A sustentabilidade implica um equilíbrio. As coberturas estão a ficar repletas de painéis solares, em nome da sustentabilidade. Arriscamo-nos a viver debaixo de um enorme coletor solar, com painéis de todas as formas e feitios e inclinações. O benefício que traz não cobre o prejuízo arquitetónico, mas tal é tolerado (e fortemente incentivado) em nome dessa pretensa sustentabilidade. Será isso a sustentabilidade? Julgo que não.
A sustentabilidade dos edifícios é feita através das soluções arquitetónicas integradas, construtivas, definições de materiais e equipamentos e conhecimento da proveniência dos mesmos para verificação da pegada de carbono. A arquitetura tem de ser cada vez mais um reflexo deste entendimento.

«Precisamos, não de crescimento, mas de desenvolvimento. Desenvolver de forma equilibrada, no tempo e no espaço, com respeito pelos sítios e pelas pessoas»
F. Fernando Guerra
E qual o papel da arquitetura em relação aos desafios ambientais a nível global? 
A arquitetura tem um papel decisivo nos desafios ambientais que temos pela nossa frente. Todas as decisões de projeto, quer de desenho, da proveniência e tipo de materiais, bem como da escolha de equipamentos, são importantes para o futuro ambiental. Julgo que a breve trecho esta situação irá evoluir bastante. Mas, mais importante que a criação de restrições, é a consciência de que todos nós temos de mudar e perceber que os recursos não são infinitos. 

No seu entender, os futuros arquitetos vão pensar muito diferente dos arquitetos da sua geração? 
Desejo que cada geração de arquitetos seja melhor do que a anterior e que as novas gerações tenham uma consciência ambiental muito mais apurada. Serão diferentes e melhores, fruto de um contexto também diferente, com novos desafios.

Entre projetos públicos e privados, construídos de raiz ou de requalificação, o seu portfólio é vasto, inclusive empreendimentos turísticos. Há algo que ainda não tenha projetado e que o faria sentir-se completamente realizado?
De facto, já realizámos projetos e obra diversificada, de caráter público e privado. Julgo que a minha realização nunca estará completa, uma vez que estou sempre em busca de novos desafios. Gostaria de desenhar uma igreja ou outro templo, independentemente da religião. Pelo simbolismo e pela vontade de desenhar algo de dimensão espiritual e desconhecida. 

De todos os projetos que desenhou, qual o que mais se destacou na sua vida profissional, e qual o que mais apreciou criar (pelo desafio, pela técnica, pelo tempo dedicado)?
É muito difícil responder a essa questão. Não consigo mesmo designar o projeto de que mais gosto ou gostei de desenhar. Acredito sempre que os que estou a desenvolver neste momento são os melhores e que o que estou a começar ainda vai ser melhor. Mas, por vezes, por esta ou aquela razão, nem sempre isso acontece. Ainda assim, essa ilusão de que o melhor está para vir é que estimula a nossa atividade e criatividade. Diria que os projetos que criamos são como os filhos. Não há propriamente o melhor. São diferentes.

«Se não houver habitação mais ou menos digna para todos, não haverá desenvolvimento para ninguém»
F. Fernando Guerra
 Além da arquitetura, também tem vindo a desenvolver outros projetos, como a escrita, através de livros já publicados. É importante para o Mário Martins deixar em papel parte do seu trabalho, do seu conhecimento, como uma forma de passagem de testemunho?
A Uzina Books acabou de editar o livro DUO – Mário Martins, que é a última de quatro monografias. Este é um trabalho de conjunto com a editora, moroso, mas que me dá especial prazer. Não é tanto deixar a obra publicada em livro, porque a Internet acaba, de uma forma ou de outra, por registar a obra construída. Por isso mesmo, a publicação escrita está a perder espaço. O que mais me agrada na preparação destes livros é a possibilidade de intercalar a voracidade do trabalho de atelier, para olhar novamente para os projetos, analisá-los e apresentá-los através de uma mesma linguagem gráfica, um fio condutor, que não é mais do que a evolução da nossa obra. Neste processo situações, que servem de aprendizagem para os próximos projetos. O livro DUO trata de agrupar e identificar semelhanças entre dois projetos diferentes e mostrar como estes se podem organizar e conviver num determinado contexto mais ou menos urbano. Mostrando assim que a arquitetura e a vida não são indissociáveis. 

É fácil ter ideias, no exercício da arquitetura? Ou há momentos em que a criatividade espera o tempo certo? 
É fácil ter ideias. Mais difícil é ter boas ideias. As boas ou as más advêm do nosso saber e, muitas vezes, surgem das dificuldades, condicionantes e circunstâncias do projeto. Por isso, é necessário alimentar o nosso intelecto. É um processo contínuo, que implica a aquisição e o processamento de conhecimento. Isto é: saber, saber ver e pensar. O arquiteto não é necessariamente melhor por ver muitos sites de arquitetura e conhecer as novas tendências arquitetónicas, mas por ter o seu próprio entendimento da história e do mundo atual. É natural que a intensidade do trabalho me provoque cansaço. Revigoro-me ao sair da rotina, viajar, visitar uma exposição, um museu ou assistir a um espetáculo. Não tento curar a arquitetura só com a arquitetura. As boas ideias não vêm necessariamente do mundo da arquitetura. Por vezes, vêm de onde e quando menos se espera. Podem vir da natureza, de uma conversa ocasional ou da leitura de um livro. 

Por que valores se deve reger um arquiteto? Onde começa e acaba a sua ‘liberdade’?
O arquiteto deve reger-se pelos mesmos valores que devem nortear todas as pessoas, acrescido dos valores a que deve obedecer pelo exercício da profissão, quer a deontologia e o respeito pelos colegas, quer os deveres para com os clientes, entidades ou outros.
Infelizmente, a liberdade do arquiteto está a ficar mais limitada. A responsabilidade crescente do arquiteto num panorama legislativo disperso e contraditório e, diria mesmo, intimidatório, limita a sua liberdade civil e profissional. Isto assusta-me cada vez mais. Aliás, sinto uma revolta crescente, que julgo ser comum a todos os arquitetos na área do projeto. O que ainda mantenho intacto é a liberdade do pensamento. Como disse anteriormente, se adquirimos o nosso conhecimento de uma forma livre e sensata, poderemos tomar as decisões acertadas e, assim, estaremos mais imunes aos crescentes apelos, que nos entram pelas redes sociais, de pensar como os outros e de acreditar numa mentira repetida. 

«Não podemos continuar a criar cidades, a crescer por anéis e a empurrar os mais frágeis para as periferias, enquanto se esvaziam os centros de vida urbana, para torná-los meros pontos de atração turística»
F. Fernando Guerra
Ter a liberdade para pensar, além do espectável, é algo que o deixa confortável em cada projeto? Ou prefere cingir-se ao pedido?
Tenho sempre liberdade para pensar. Posso é, por diversas razões, não conseguir concretizar o meu pensamento. Quando se refere ao ‘pedido’, julgo tratar-se do programa do projeto. Não há projeto sem programa. Este é determinante para desenvolver o projeto. É a sua base. O cliente tem o direito, e o dever, de apresentar o seu pedido. Este pode ou não encaixar no seu orçamento, área disponível ou em qualquer outro condicionalismo. Assim, com a nossa intervenção, o pedido pode ser reajustado. O projeto não se limita a juntar as áreas de um programa, mas sim a criar algo interessante a partir daí e das demais condicionantes legislativas, orçamentais e técnicas, mas desejavelmente num contexto de liberdade criativa. 

São os lugares que trazem uma mais-valia ao projeto ou vice-versa?
Os lugares determinam o desenho dos projetos, devendo contribuir para a sua mais-valia. A qualidade dos projetos contribui para a qualidade dos lugares. É uma relação recíproca.

«O papel do arquiteto não se deve esgotar na recuperação das fachadas ou dos edifícios, porque a requalificação da cidade é muito mais do que isso»
F. Fernando Guerra
Um bom arquiteto só se faz com uma boa equipa. Concorda? 
Claro que sim. A arquitetura é uma atividade cada vez mais complexa, que envolve uma crescente componente técnica. O projeto de arquitetura tem de integrar e resolver numa mesma solução as mais diversas questões, devidamente coordenadas e articuladas. O trabalhar em BIM, com toda a equipa de arquitetura e especialidades de engenharia num mesmo modelo, torna a importância do trabalho de equipa ainda mais evidente. 

Continua a viver a arquitetura com a mesma intensidade com que começou?
Continuo a viver a arquitetura com a mesma intensidade com que comecei, mas não com a mesma ingenuidade. No entanto, apesar de alguns obstáculos, continuo, ainda com alguma dessa ingenuidade, a acreditar num maravilhoso projeto que vamos fazer. É este entusiasmo, quase infantil, que nos faz acreditar e continuar a trabalhar com paixão. É como deixar de ser criança e continuar a acreditar no Pai Natal, sabendo que ele não existe.

«A sustentabilidade é uma palavra em voga, por vezes, porque fica bem falar-se dela, mas nem sempre se sabe do que se está a falar»
F. Mário Martins
Esquisso que tenta explicar o pátio e a relação da Casa Bonança com a cidade de Lagos.
Se não fosse arquiteto, o que gostaria de ser?
Não me recordo de querer ser arquiteto desde muito jovem, mas gosto muito de ser arquiteto. Mas sinto um grande apelo pelo desenho e artes plásticas, que me ocupa parte do pouco tempo livre que tenho. Apesar da dificuldade da folha em branco e da necessidade que tenho do cliente para dialogar, a criação nas artes plásticas é feita sem o peso da responsabilidade, da intensidade e do, por vezes, cruel mundo da arquitetura. 

Qualquer arquiteto e projeto deve ser... 
Qualquer arquiteto deve ser coerente. Qualquer projeto deve ser coerente e de qualidade.
Maria Cruz
T. Maria Cruz
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