Assumiu o cargo de presidente da Associação de Turismo do Porto e Norte (ATP) em 2020. Em janeiro deste ano foi reeleito para o cargo. Que desafios tem enfrentado, ao longo destes anos, e que estratégias tem em mente para este novo mandato que tem pela frente, ou seja, até 2025?
Têm sido vários os desafios, alguns inesperados como a pandemia, que foi, sem dúvida, o maior de todos. Passar de um momento de crescimento para o zero absoluto foi algo difícil de admitir e logo no início de um mandato. Obrigou-nos a encontrar forças e soluções, que nem imaginávamos possuir. Nós não parámos um minuto, nunca baixámos os braços, estivemos sempre a preparar o day after, sabíamos que ele chegaria e, nesse momento, queríamos que a atenção dos mercados recaísse novamente sobre nós. O desafio era o de manter a notoriedade da região top of mind. Julgo que o conseguimos, com sucesso, pode parecer presunçoso, mas os números e os diversos prémios alcançados pelas nossas campanhas de comunicação e marketing assim o demonstram. Acreditava que a recuperação do setor iria ser rápida, mas não tão rápida como acabou por suceder. O Turismo foi a grande alavanca da economia nacional no pós-pandemia.
No caso da ATP, enquanto Agência de Promoção Externa da região, a estratégia está bem definida – continuar o trabalho de promoção, junto dos nossos principais mercados emissores, nomeadamente nos de longa distância, onde os EUA, Canadá e Brasil são os mais relevantes, sem esquecer a Ásia, um mercado que ainda não recuperou, mas que acredito estará de regresso, em força, em 2024.
Noutra dimensão, mais interna, estamos a preparar a organização para os novos tempos, onde a presença digital é um fator crítico de sucesso. Estamos, por isso, a dias de apresentar o nosso Marketplace, o primeiro de uma região de turismo portuguesa e que acredito permitirá um crescimento nas vendas das empresas que se queiram associar. Estamos também a dias de apresentar a nova imagem do Turismo do Porto e Norte, queremos que os 4 sub-destinos se sintam integrados numa imagem contemporânea e que quer assumir, sem tibiezas, que a origem e o mais original de Portugal, têm um nome – Porto e Norte. Temos igualmente feito algumas revoluções na estrutura. É certo que ainda há muito por fazer, no entanto, hoje somos uma organização mais forte, mais unida, que pratica salários mais justos, onde, por exemplo, existe finalmente um regulamento de carreiras e acredito que os colaboradores sentem que existe um excelente ambiente de trabalho.
É formado em design, graduado em marketing, foi deputado na assembleia, fez assessoria, desempenhou cargos de comunicação e marketing, em diversas instituições, e ainda leciona marketing. Diríamos que comunicar está-lhe na génese. De que forma tem comunicado as suas ideias desde que assumiu a presidência da ATP?
E são sempre bem aceites? Quem não comunica não existe, hoje mais do que nunca, por isso dou muita importância a essa área, é o que nos faz destacar no meio de centenas de concorrentes. Hoje somos conhecidos por ter campanhas muito criativas, conquistámos dezenas de prémios internacionais, e sei que as expectativas são agora mais elevadas. Na verdade, não me posso queixar, tenho uma equipa excelente, que tem aceitado as minhas ideias, mas onde o diálogo é permanente e eu também gosto de ouvir as ideias dos outros. Atuamos muito com base em ferramentas como o brainstorming, todas as ideias são bem-vindas, sabendo que, por vezes, é de um grande disparate que surge uma ideia luminosa. É um processo sério, mas divertido e a equipa conhece-o bem. Estamos todos e todas, até porque a maioria são mulheres, muito alinhados.
Além de presidente da ATP, também assume a presidência da Entidade Regional de Turismo do Porto e Norte (TPNP). De que forma estas duas entidades se complementam?
O objetivo é ter uma fusão funcional, permitindo que áreas como a comunicação e o marketing possam trabalhar em conjunto. Nem sempre é fácil, é uma novidade no seio das duas instituições, nem todos os colaboradores o entendem, mas estamos a dar passos importantes. Sucintamente, a TPNP tem como missão principal estruturar os produtos turísticos da região e fazer a promoção no país e em Espanha; já a ATP é a responsável por toda a promoção externa, com exceção de Espanha. É fácil a complementaridade e faz todo o sentido terem um trabalho de grande proximidade. Uma é constituída, maioritariamente, por parceiros privados, a outra, por parceiros públicos. Sempre defendi que se existe setor onde público e privado têm de estar juntos, é no setor do turismo, também por isso esta proximidade é benéfica.
«Sempre defendi que se existe setor onde público e privado têm de estar juntos, é no setor do turismo»
O setor do turismo, fator essencial para a economia do país, tem crescido nos últimos anos, mas, ainda assim, estamos muito aquém, comparativamente a outros países europeus. O que necessitamos exatamente, em Portugal, para nos posicionarmos ao nível de outros destinos turísticos?
Portugal tem realizado um percurso notável, somos hoje uma superbrand. O país tem sido reconhecido por diversas vezes, internacionalmente, como melhor destino turístico do mundo. O Instituto do Turismo de Portugal é dos mais prestigiados a nível europeu e mundial, conseguindo inúmeros prémios internacionais de grande relevo. Recordo também que, ao nível das infraestruturas do turismo, ocupamos os primeiros lugares do ranking mundial – em 2019, erámos os primeiros da lista do Fórum Económico Mundial. Permita-me que recorde um número que diz bem do sucesso que o turismo português tem alcançado – as receitas do turismo atingiram, em 2022, os 21 mil milhões de euros, superando em 20% o valor registado em 2019, naquele que foi considerado o melhor ano turístico de sempre. É obra, principalmente após dois anos de pandemia.
Temos muito orgulho na marca Portugal, mas sabemos que as marcas regionais são fundamentais para o crescimento do turismo. Felizmente, vivemos um momento de grande harmonia entre todos, a relação com os colegas das outras regiões é excelente, somos um país pequeno para nos dividirmos e, felizmente, muito diverso para nos podermos complementar e é o que temos feito, por isso, vamos constantemente juntos para ações de promoção externa. Claro que nem tudo está bem, posso lhe deixar dois exemplos que em muito contribuiriam para melhorar o nosso posicionamento e competitividade – a construção do famigerado aeroporto para Lisboa e uma nova ligação ferroviária Porto/Lisboa, rápida, segura e confortável.
A mobilidade ferroviária entre cidades é um dos fatores que condiciona, muitas das vezes, os turistas a visitarem mais do que uma ou duas cidades. Como se pode colmatar isso, por forma a que o destino Porto e Norte passe a ter mais procura turística? E de que forma o governo pode ou deve intervir?
Isso é o que já acontece no Norte entre algumas cidades. O crescimento do turismo em Braga tem sido possível, também, graças a uma boa ligação ferroviária, o mesmo acontece com Aveiro, que, não estando na nossa região, beneficia, e ainda bem, de uma excelente ligação ao Porto. A eletrificação da linha do Minho foi um projeto exemplar, numa linha que já não via investimento há quase um século. Tivemos demasiados anos sem investir na ferrovia e hoje acredito que todos percebemos o erro, nomeadamente quando muitos países europeus fizeram o caminho aposto. Há ainda muito por fazer, o Douro e Trás-os-Montes precisam urgentemente que se invista na ferrovia. Sobre a Linha do Douro, da qual somos grandes e entusiastas defensores, quero acreditar que finalmente vai poder ver a luz do dia, assim está anunciado pelo governo. Fizemos parte de um grupo de trabalho, liderado pela CCDRN, que teve como objetivo avaliar a importância deste projeto ao nível social, económico, turístico, entre outros, e ficou muito clara a sua pertinência. A Linha do Douro irá transformar a região e permitirá aproximar duas regiões transfronteiriças, o Douro e Castela e Leão. Se queremos turistas em todo o território e não apenas concentrados nas grandes cidades, então temos de investir mais na mobilidade.
Por outro lado, também a conectividade aérea tem vindo a criar um maior fluxo de entradas de passageiros/turistas no Norte. Terá o Norte que pensar também, a um curto/médio prazo, na possibilidade de se construir um novo aeroporto?
O aeroporto Francisco Sá Carneiro está a receber em média 50 mil turistas por dia, um número bem acima do ano recorde de 2019, em que registou 13 milhões de movimentos de passageiros. Temos hoje 105 rotas, operadas por 29 companhias aéreas, o que diz bem do crescimento operado nos últimos anos. Tenho a informação de que o aeroporto pode crescer até à capacidade de 40 milhões de passageiros, com obras, obviamente, mas sem ter de mudar de localização. Ou seja, a possibilidade de novo aeroporto não se coloca, já basta a vergonha e o embaraço que temos de enfrentar por não termos conseguido construir um novo em 50 anos, o que seria se fossem dois.
«O Instituto do Turismo de Portugal é dos mais prestigiados a nível europeu e mundial»