VillaseGolfe
· Personalidade · · T. Maria Cruz · F. ©PMC

Tiago Brandão Rodrigues

«É bom sentir que, cada vez que algo chega ao fim, existe sempre um novo princípio»

Villas&Golfe Pub. PUB HOMES IN HEAVEN Pub.
Vidago Villa Pub.
PMmedia PUB Pub.

Recebeu-nos, descontraído, no seu mundo. Naquelas que são as suas origens. Na terra que o viu crescer. Na casa natal. É um lugar sereno, recheado de recordações e de momentos em família. Ali conversámos e captámos, através da objetiva, a simpatia, a amabilidade e os sorrisos de Tiago Brandão Rodrigues. O homem da Ciência que há quatro anos assumiu, com pleno sentido de dever, o desafio político de chefiar a pasta da Educação. Como cientista, é o próprio quem o diz que será «para sempre cientista». Como ministro, reconheceu que «o trabalho na Educação é muito complexo e multifacetado, mas necessariamente inacabado». Ainda que tenha vivido em vários países, Paredes de Coura continua a ser o lugar onde mais se sente em casa. Não faz planos a longo prazo, porque é um apaixonado pelo que faz a cada momento. Mas gosta de sentir que contribuiu para o bem-estar das outras pessoas. Tendo sido assim a vida toda, não podia ser diferente quando se trata da Educação, da Juventude e do Desporto.

É um homem da ciência. Foi desafiado para assumir a pasta da Educação há sensivelmente quatro anos (26. nov. 2015). Como é que encarou esta mudança na sua vida?
Foi efetivamente uma enorme mudança. Vivia em Cambridge, onde era investigador científico, e ter voltado para Portugal, primeiro para ser deputado e, depois de um mês, para assumir o Ministério da Educação, foi um imenso desafio. Como noutros momentos, e já tinha tido alguns pontos de inflexão na minha vida, fi-lo com grande honra e sentido de responsabilidade, mas também com muita naturalidade. Quando falo de responsabilidade, digo-o porque sempre acreditei que a política pode mesmo ser a arte das grandes realizações e que, por outro lado, a Educação é a área mais nuclear para que as políticas públicas tenham realmente efeitos na qualidade de vida, nas possibilidades de realização e na real emancipação de cada um de nós. É fácil entender que essa mudança implicou uma nova realidade e uma real oportunidade. Tive de aprender rápido, mas a verdade é que muitos dos hábitos e dos métodos de trabalho da ciência, da universidade, acabaram por ser muito úteis para organizar uma grande equipa que me acompanha e para construir políticas públicas e procedimentos para gerir com eficácia um enorme Ministério. Além disso, assumi igualmente as pastas da Juventude e Desporto, áreas que também têm uma relação indelével com a minha vida e, obviamente, com a Educação.

«É fulcral que a escola pública seja o garante de educação de qualidade»

Teve receios quando aceitou o desafio proposto pelo Primeiro-Ministro António Costa?
Com sinceridade, não. Foi importante, primeiro, sentir que tinha todos os graus de liberdade para poder dizer «não» ao enorme desafio que António Costa me lançava. Estava num entorno científico único, num instituto de investigação vibrante, com resultados muito interessantes e com muita visibilidade e reconhecimento na área da oncologia, pelo que poderia, claramente, continuar naquele trilho de vida e sentir a realização profissional e pessoal naquela realidade. Mas senti que era tempo de voltar a Portugal e de colocar o meu empenho político e cívico ao serviço para contribuir para a construção de uma outra realidade, mais ainda depois do difícil período pelo qual o país estava a passar. Mas o que acabou por marcar a decisão foi a confiança e a admiração que sempre tive em quem me fez o convite, e que, algum tempo depois, seria Primeiro-Ministro de Portugal. Passados quatro anos, mantenho totalmente a convicção de que aquele movimento de regresso tinha a força das coisas que têm mesmo de ser feitas na vida. Depois, o mais importante é termos uma visão, um programa no qual nos revemos e formarmos uma boa equipa para o levar a cabo. 

De que forma o percurso, por esta legislatura, teve repercussões na sua vida?
Foram imensas e intensas as repercussões no meu estar. Voltei a Portugal, depois de 16 anos fora do país, vim viver para Lisboa, onde nunca tinha vivido, e tudo mudou no meu dia a dia. E acredite que ter uma agenda carregada, sete dias por semana, e longos e intensos dias de trabalho é a maior das diferenças, pois já tinha uma vida profissional muito preenchida. Como é óbvio, passei a falar em público ou à comunicação social com muita assiduidade, passei a ser reconhecido e, muitas vezes, interpelado na rua e a ter uma agenda intensa de momentos de enorme responsabilidade. Mas a verdade é que me sinto um verdadeiro privilegiado, pois conheci e acompanho projetos fantásticos, profissionais imensamente dedicados, alunos profundamente talentosos, desportistas de exceção. E quando vemos que um projeto que construímos, acompanhamos ou apoiamos faz a diferença, tudo faz verdadeiro sentido.

Em que medida a escola pública foi revalorizada?
Foi verdadeiramente revalorizada. O setor estava muito fragilizado, com os efeitos da crise económica e das políticas de austeridade que tiveram um impacto enorme e muito marcado sobre a Educação. Voltámos a investir na Educação e a recuperar o investimento perdido, a contratar e a dar maior estabilidade a todos os profissionais e a permitir a sua progressão, reduzimos a dimensão das turmas e estamos novamente a fazer investimentos cruciais na requalificação de centenas de escolas. É fulcral que a escola pública seja o garante de educação de qualidade com aposta no sucesso escolar e na equidade entre todos. Alcançámos, este ano, as taxas de abandono e retenção escolares mais baixas de sempre. O pré-escolar e a educação ao longo da vida são outros dos marcos em que assenta esta revalorização. Com as comunidades educativas, criámos uma cultura de autonomia e flexibilidade que valoriza o saber específico dos professores, os projetos realizados nas escolas, dando um horizonte de futuro a essas comunidades.  

Os portugueses confiam na escola pública? 
Sem dúvida alguma. E quando comparamos com outros países, daqueles com que nos gostamos de comparar, alguns dos quais onde já vivi, isso é mais do que evidente. Diversos relatórios de organismos internacionais de referência nesta área têm destacado os grandes progressos do sistema educativo português, 80% do qual se baseia no ensino público, valor que se tem mantido estável. E todos temos ouvido falar, cada vez mais frequentemente, de projetos inovadores, de professores premiados e de jovens talentosos que vingam a nível nacional e internacional oriundos da nossa escola pública. Tudo isto é muito recompensador e faz muito pela confiança dos cidadãos na escola pública. Terei sempre na memória a equipa da Escola Secundária de Ponte de Lima que foi campeã do mundo do desafio «4x4 in schools» da Land Rover. Ganharam um evento muito exigente, em que participaram 25 equipas de 17 países, e no qual Portugal foi o único país que levou alunos de uma escola pública.  

Como tem tentado tornar as avaliações mais justas? Nomeadamente no que diz respeito aos exames nacionais?
Os exames nacionais mantiveram-se, no final dos ensinos básico e secundário, como forma de atestar as aprendizagens desenvolvidas. Contudo, eles foram complementados com provas de aferição, realizadas em momentos intermédios dos vários ciclos do ensino básico, que têm um caráter mais diagnóstico, qualitativo e formativo, dando indicação às escolas, aos alunos e às famílias de quais as aprendizagens que os alunos já realizaram e em que aspetos precisam de melhorar. Isso é muito mais útil e exigente do que receber apenas uma nota no final. 

«O golfe já é uma das 36 modalidades praticadas no que costumo apelidar de maior clube nacional: o Desporto Escolar!»

Nunca se equacionou inserir o golfe no Desporto Escolar?
O golfe já é uma das 36 modalidades praticadas no que costumo apelidar de maior clube nacional: o Desporto Escolar! E é praticado em mais de 60 escolas, em várias regiões do país, que se encontram periodicamente para disputar torneios, havendo campeões nacionais de golfe no Desporto Escolar. Temos formação específica para professores neste desporto e seis Centros de Formação Desportiva dedicados ao golfe um pouco por todo o país. Gostava que a Villas&Golfe viesse acompanhar um dos nossos torneios. Fica o convite! O Desporto Escolar é efetivamente um programa fantástico e que tem vindo a crescer de ano para ano, permitindo a prática do desporto a muitas centenas de milhares de alunos, tendo nós recentemente apostado também nas modalidades adaptadas, para que possa ser verdadeiramente inclusivo. 

Agora que o mandato está a terminar o que fica destes quatro anos, que balanço faz? Tanto na educação/ensino como na sua vida política. 
Um balanço muito positivo. Creio que cumprimos o mandato que nos foi confiado, cumprindo o programa nas áreas que tutelo. E deixámos a Educação, o Desporto e a Juventude numa situação melhor do que aquela em que os encontrámos. 

O que ficou por fazer na Educação em Portugal?
O trabalho na Educação é muito complexo e multifacetado, mas necessariamente inacabado. Ficam sempre questões por completar. Até porque a sociedade está em mudança acelerada. Mas, como referi há pouco, um dos aspetos mais importantes é abrir um horizonte de futuro às escolas, à juventude, ao desporto, para que se possa continuar a fazer caminho. Essa foi uma das minhas principais preocupações.     

O que o fez enveredar pelo mundo cientifico? Foi a curiosidade por novas descobertas? 
Pela vontade incessante de ir mais longe. Sempre fui fascinado pela natureza e pela ideia de acrescentar conhecimento ao mundo do conhecimento. É como estar perto de uma ravina, uma vez que é ali o limite do que se conhece, e dar passos em frente… Mas, em vez de caíres, crias novo chão, que é o novo conhecimento que crias. Pessoalmente, a ciência deu-me competências que me acompanharão para toda a vida. 

Licenciou-se em Bioquímica. Especializou-se em Biofísica Molecular. Dedicou-se ao estudo de doenças neuro degenerativas. Fez investigação na área da oncologia. Portanto, a ciência, a investigação, dominam-no. Pensa voltar a este mundo científico? 
Uma vez cientista, para sempre cientista. É bem verdade que podem tirar um cientista da ciência, mas não podem tirar a ciência de um cientista. Não sei exatamente o que acontecerá no futuro, mas posso dizer que tenho sempre o mundo da ciência presente e, acima de tudo, todas as competências e conhecimentos que por lá fiz. 

É um homem do Norte. É de Paredes de Coura. O que lhe apraz dizer sobre as suas origens?
Muito do que sou pode ser mais bem entendido visitando aquele território. Tendo vivido em quase dez sítios diferentes de quatro países diferentes, Coura e talvez Moledo são os únicos sítios que sinto como casa. Somente com o facto de sussurrar estes nomes sinto a sinestesia a acontecer. Se a minha vida fosse uma cadeira, com facilidade posso pensar que três das pernas dessa cadeira estariam ligadas a essas origens.  

«Venero o campo, mas fascina-me o conceito de colmeias humanas que são as cidades»

Prefere a cidade ou o campo?
Venero o campo, mas fascina-me o conceito de colmeias humanas que são as cidades. O melhor é mesmo podermos alternar dias no campo e na cidade.

Escrever ou ler? 
Gosto muito de ler e gostaria de ter mais tempo para escrever. 

Música ou silêncio? 
Sou um melómano. Mas que valor teria a música sem o silêncio? 

Falar ou deixar falar? 
Eu, que falo muito, penso que deixar falar é quase sempre mais interessante.

Um bom prato ou uma boa apresentação? 
Se fala de uma boa apresentação powerpoint, sem dúvida que é melhor um bom prato (risos). Ultimamente, tenho apreciado bom peixe.

Onde se vê daqui a quatro anos?
Vejo-me em tantos lugares diferentes. Nunca fiz planos a longo prazo, porque quase sempre senti que estava demasiado envolvido e apaixonado com o que estava a fazer, em cada momento.

O que o deixaria mais realizado, quer pessoal, quer profissionalmente?
Muitas coisas e muito diferentes. Mas tiveram, têm e acho que terão sempre um denominador comum: sentir efetivamente que estou a contribuir para o bem-estar, a realização e a superação de outras pessoas. Isso tem sempre contribuído para o meu bem-estar, a minha realização e a minha superação. Era assim na investigação que fazia, bem direcionada para a deteção precoce de tumores e para a avaliação da eficácia de tratamentos oncológicos. E é assim no trabalho diário em prol da Educação, da Juventude e do Desporto. Mas é bom sentir que, cada vez que algo chega ao fim, existe sempre um novo princípio, pelo que acredito que continuarei a fazer o mesmo em futuros projetos em que estiver envolvido.

Maria Cruz
T. Maria Cruz
F. ©PMC
Política de Cookies

Este site utiliza Cookies. Ao navegar, está a consentir o seu uso. Saiba mais

Compreendi